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CARA NOVA
Ele foi escolhido por Lula para mudar o partido em São Paulo

A apuração das urnas da capital paulista, no domingo 28, deve transformar o ex-ministro da Educação Fernando Haddad na mais nova estrela do Partido dos Trabalhadores. Mantida a tendência das pesquisas de intenção de voto que colocam o candidato petista à Prefeitura de São Paulo com uma vantagem de 14 a 20 pontos à frente do tucano José Serra, Haddad sairá da eleição como uma das lideranças mais importantes da legenda no principal colégio eleitoral do Brasil. Escolhido como candidato pelo ex-presidente Lula, que recomendava “uma cara nova” para o PT paulista, Haddad torna-se automaticamente uma figura de proa do partido nas negociações políticas para 2014. Ele vai administrar um orçamento anual de R$ 42 bilhões e uma cidade com 8,6 milhões de eleitores. Com essa posição, será uma voz poderosa tanto na estratégia do PT de reeleger Dilma Rousseff quanto na de tentar colocar fim a duas décadas de comando do PSDB no governo do Estado. “Com o mensalão, o PT derrubou uma geração de políticos, principalmente em São Paulo. Haddad representa um novo grupo que veio para ocupar esse espaço. São Paulo é a maior vitrine do País. Naturalmente, quem consegue êxito na administração da cidade vira um jogador importante no cenário nacional e se cacifa para voos mais altos”, avalia o cientista político Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB).

Há pouco mais de um ano o cenário político se configurava bem diferente para Haddad. O ex-ministro da Educação era considerado por seus pares apenas a quarta força eleitoral do partido em São Paulo. À sua frente, apareciam como potenciais candidatos a prefeito de São Paulo pelo menos outras três personalidades da legenda: Aloizio Mercadante, Marta Suplicy e Arlindo Chinaglia. Houve também, no partido, quem trabalhasse para emplacar como candidato o ministro da Saúde, Alexandre Padilha. Para conseguir oficializar a candidatura de Haddad, foi necessário o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva usar o peso de sua liderança no PT e quase que impor, a contragosto da maioria, um nome então desconhecido do público e da militância, que largava nas pesquisas com apenas 3% das intenções de voto. 

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OS PRETERIDOS
Apesar do prestígio que os mantém no governo federal,
Marta Suplicy e Mercadante têm um novo parceiro

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Apesar de se deparar, agora, com um quadro completamente distinto daquele que se desenhava no início da campanha, Haddad manteve, na reta final do pleito, o mesmo comportamento adotado quando poucos acreditavam em seu triunfo nas urnas. “Ele mantém a serenidade e a prudência, como se não estivesse prestes a ganhar a eleição”, disse um dos integrantes da campanha petista. “O último candidato à Prefeitura de São Paulo que sentou na cadeira antes da hora é tucano. E a gente sabe o que aconteceu”, lembrou Lula, na última semana, numa cutucada em Fernando Henrique Cardoso, que na disputa municipal de 1985 posou para uma foto na cadeira de prefeito antes da eleição e saiu derrotado por Jânio Quadros. Para não correr esse risco, Haddad seguiu com sua agenda intensiva. Até o dia da eleição, concedeu cerca de 120 entrevistas coletivas, falou 50 vezes com exclusividade a jornais e rádios, fez 20 aparições em programas de tevê e participou de sete debates desde o primeiro turno. “Se dependesse de pesquisas, eu não estaria no segundo turno”, declarou o candidato em evento com profissionais de saúde na terça-feira 23.

Em contraste com a cautela adotada por Haddad e Lula, correntes petistas e partidos aliados, como PSB, PCdoB e PMDB, já deflagraram uma acirrada disputa por espaços na gestão municipal. Temem que o ex-ministro da Educação dê preferência a nomes com perfis mais técnicos, a exemplo dele próprio, para as principias secretarias do município. Entre os cotados para ganhar mais poder no partido junto com Haddad estão os parlamentares federais Jilmar Tatto e Carlos Zarattini, o deputado estadual Simão Pedro, o vereador Carlos Neder, a vice de chapa Nádia Campeão (PCdoB) e Marianne Pinotti (PMDB). Todos têm boas chances de assumir cargos no primeiro escalão. Nos bastidores, porém, o ex-presidente Lula e H­addad, têm agido para conter a sanha dos companheiros. “Nesta hora, todo mundo tenta se apresentar para assumir um cargo ou indicar alguém. Só que este não é o melhor momento para picuinha ou esse tipo de pressão”, diz um dos coordenadores da campanha. “As vagas nunca darão conta dos pedidos. E ainda tem que se levar em conta a composição com outras forças para conseguir maioria na Câmara”, diz. O que é dado como certo por dirigentes do PT é que aqueles que ficaram ao lado do candidato nos momentos em que a vitória parecia inviável – a chamada turma dos 3% – levarão vantagem.

Fotos: Paulo Pinto; Sérgio Lima/Folhapress e Rubens Cavallari/Folhapress