Guerra e spray/ Bansky/ Editora Intrínseca/ 240 págs./ R$ 49,90

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Quem assistiu ao documentário “Exit Through the Gift Shop”, indicado ao Oscar 2011, sabe que Bansky é uma estrela anônima do grafite mundial, que nunca mostrou o rosto em público. Mas, ao se esconder por trás do capuz do moleton, ou vestir uma máscara de macaco para sair para pintar, o grafiteiro Bansky não está simplesmente ocultando sua identidade. Está, à maneira de todos aqueles que usam a máscara-símbolo dos movimentos occupy que tomaram o mundo, assumindo uma identidade coletiva. O macaco não pode ser encarado simplesmente como um alter ego de Bansky. Na medida em que sua figura é grafitada nas paredes de Londres com a frase “Pode rir agora, mas um dia estaremos no comando”, fica evidente que o macaco é a face de uma tribo.

Mas que tribo Bansky representa? Se o “comando” a que se refere for o do mercado da arte contemporânea, a tribo em questão aqui é a dos grafiteiros, que cada vez mais dão a tônica das feiras de arte e já são disputados por grandes coleções públicas e privadas. Embora Bansky alardeie que “não existe elitismo ou badalação” no grafite e que o muro sempre foi o melhor lugar para divulgar seu trabalho, é fácil encontrar dezenas de prints de seus melhores grafites à venda em sites e galerias online. Como seu grafite é feito com máscaras, pode ganhar tiragens em papel e ser vendido como múltiplo.

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PALESTINA
fazem apologia do pacifismo e do anarquismo e crítica ao sistema

Estão à venda na internet, por exemplo, a onça que escapa da jaula formada por um código de barras, a rainha Elizabeth com face de macaco, ou o avião de guerra grafitado com a palavra “aplauso”. A julgar pela forte carga política de seus trabalhos, nos convencemos de que a tribo que Bansky quer levar ao poder é formada por pacifistas, ativistas, anarquistas ou manifestantes anticapitalismo global.

Esse repertório está reunido no livro “Bansky: Guerra e Spray”, publicado na Inglaterra, em 2006, e agora lançado no Brasil. De autoria de Bansky – embora ele relute em ser identificado como o autor da obra, inscrevendo na folha de rosto da publicação a frase “copyright é para perdedores” –, o livro está repleto de textos autobiográficos. Em um deles, ele se pergunta: “Por que todos os artistas estão preparados para sofrer por sua obra, mas tão poucos estão preparados para aprender a desenhar?” Apesar de sua campanha pela arte figurativa, é preciso apontar que o forte de seu trabalho é o conceito por trás de imagens impactantes.

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PLANETA DOS MACACOS
Grafites de Bansky em Londres

Uma de suas ações urbanas mais interessantes foi aplicar sobre paredes imaculadamente brancas a inscrição, simulando um aviso oficial da coroa britânica: “Este muro é uma área reservada para grafite. Por favor, leve seu lixo para casa.” Em 15 dias, a parede tornava-se um “museu” a céu aberto.