Ele fala pouco, não gosta de chamar a atenção nas ruas e tampouco distribui santinhos para pedir votos ao Partido da Causa Operária (PCO), pelo qual concorre à Presidência. O jornalista Rui Costa Pimenta, 45 anos, faz o estilo intelectual, admirador nato da literatura política. “Não levo jeito, mas fui intimado a ser candidato”, declara. “Como a intenção da campanha não era vencer, mas divulgar idéias do partido, tinha de ser alguém que não ficasse nas respostas decoradas.” De fala mansa e postura reservada, ele se apresentou ao eleitor de Belo Horizonte, onde ISTOÉ o acompanhou.

ISTOÉ – Como divulgar uma ideologia em 1 minuto e 23 segundos de programa na tevê?
Rui
– A gente já escreve o texto na medida, cronometrado. Chego bem perto do tempo certo, estou acostumado.

ISTOÉ – Por que o PCO não se coligou?
Rui
– A razão principal foram as alianças. O PT está ao lado de um empresário e o PSTU quis se aproximar do PCdoB, que já se aliou a partidos de direita. Também porque não defendem um salário mínimo de R$ 1.500.

ISTOÉ – O sr. acredita que o valor é viável?
Rui
– Sim, se pararmos de direcionar recurso público para pagar juros. Parece utópico porque chegamos ao fundo do poço, mas será viável quando o trabalhador acordar e reagir.

ISTOÉ – Teremos uma revolução?
Rui
– Vai haver assim que a população ganhar confiança, como está acontecendo na Argentina. Historicamente, o Brasil está predestinado à revolução.

ISTOÉ – O sr. defende a luta armada?
Rui
– Com a desapropriação do capital, a burguesia não vai entregar seu dinheiro de um modo pacífico. O trabalhador terá de pegar em armas para se defender.

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ISTOÉ – O sr. tem arma?
Rui
– Tenho, é calibre 38. Somos contra a campanha de desarmamento. Não é justo que só uma parte da população possa andar armada.

ISTOÉ – De que o sr. vive?
Rui
– Como presidente, tenho uma ajuda de custo do meu partido desde 1997.

ISTOÉ – Quanto o PCO já gastou até agora?
Rui
– Menos de R$ 30 mil. Se a gente chegar aos R$ 100 mil em todo o País vai ser muito. Gastamos pouco, os equipamentos de filmagem são nossos, durmo na casa de militantes, viajo de ônibus. Não temos de pagar um Duda Mendonça.

ISTOÉ – Quem irão apoiar no segundo turno?
Rui
– Vamos decidir em outubro, mas devemos anular ou votar em branco. Apoiar qualquer um deles é ir contra o que a gente está propondo para o trabalhador.

ISTOÉ – Quem criou o jargão “quem bate cartão não vota em patrão”?
Rui
– Isso já existia, foi usado no início do PT. É o resumo do que a gente pensa.

ISTOÉ – Tem patrão na sua família?
Rui
– (Risos) Não. Venho de uma família de operários. Meu avô, João Jorge Costa Pimenta, fundou o movimento operário no Brasil, depois o PCB e ainda a primeira organização trotskista do País. Mas também há bastante gente de classe média na família. Se eles estão votando no Ciro, no Lula ou no Serra, eu não sei.


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