A 30 quilômetros do Palácio do Planalto, em uma pequena loja de cosméticos para mulheres, em Ceilândia Norte, na periferia de Brasília, Marco Aurélio Batista comemora o aumento do fluxo de pessoas em seu pequeno estabelecimento. Desde agosto do ano passado, ele é um dos 5,5 mil correspondentes bancários do Banco Popular do Brasil, uma subsidiária do Banco do Brasil. Criado há um ano com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e como parte de um amplo programa de inclusão bancária e expansão do crédito à população de baixa renda, o “banco dos pobres”, como passou a ser conhecido pela clientela, é um sucesso. Ao completar um ano de vida na semana passada, o banco superou todas as expectativas ao conseguir mais de um milhão de clientes, presença em todos os Estados brasileiros e R$ 30 milhões em empréstimos concedidos.

Ainda é muito pouco, perto do contingente de mais 40 milhões de pessoas que ainda não sabem o que é uma conta bancária – no jargão do mercado financeiro são conhecidos como não bancarizados –, segundo estimativas das próprias instituições e do governo. “Nosso público é formado por trabalhadores do setor informal, com renda de até três salários mínimos”, diz Ivan Guimarães, presidente do Banco Popular. Esse é o perfil da grande maioria dos moradores de Ceilândia Norte, em Brasília, onde, de acordo com Batista, não pára de diminuir o número dos “não bancarizados”. “Só em novembro abrimos 707 contas”, diz ele. No total, já passam de mil. No centro de São Paulo, não é diferente. O micro-empresário Luiz Antônio Santos Menezes, dono de uma pequena loja que aluga computadores para acesso à internet e faz cópias xerográficas, na rua 24 de Maio, se prepara para investir e ampliar o negócio graças ao aumento da receita com as atividades de agente bancário. Desde que virou “agência” do Banco Popular seu movimento foi multiplicado por dez. “Estamos abrindo quase 200 contas por dia. E isso sem fazer propaganda”, conta ele, lembrando que muita gente usa o banco também para pagar contas e, claro, para conseguir empréstimos.

Pessoas das classes C e D, embora sem comprovação de renda, fazem parte de uma parcela da população ávida por crédito e por outros produtos bancários hoje só oferecidos a quem tem emprego, endereço fixo e contracheque. Mas as coisas estão mudando. Além do Banco Popular, o Bradesco, o HSBC e a Caixa Econômica Federal (CEF) também têm operações voltadas para a população de menor poder aquisitivo. O Bradesco, maior instituição privada, lançou em 2001 o Banco Postal, que atende nas agências dos Correios moradores de lugares que não contavam com serviços bancários. A CEF criou a Caixa Aqui, uma conta simplificada que não exige comprovação de renda para ser aberta. Já o HSBC preferiu entrar pesado na área de concessão de empréstimos com desconto em folha de pagamento, cuja maior atração é o juro baixo. Essa modalidade de crédito, cujas taxas não podem superar os 2% ao mês, utiliza até 2% dos recursos do depósito compulsório que o banco tem de deixar no Banco Central.

As iniciativas que começam a surgir no setor bancário vão todas na direção de conquistar essa parcela da população que está fora do mercado, mas que, segundo pesquisa da Cheque-pre, empresa especializada em informações sobre crédito, é consumidora potencialmente fiél e não representa ameaça em termos de inadimplência. A maior dificuldade ainda é conseguir uma rentabilidade parecida com a atingida nas operações de contas normais, que, com as atuais taxas de juros, tem garantido lucros recordes às instuições do mercado financeiro. “Não existe cliente não rentável. O que tem que existir é um custo adequado para torná-lo rentável”, teoriza André Rodrigues Cano, responsável pelo Banco Postal do Bradesco, que já conquistou três milhões de contas, sendo 83% de pessoas com renda de até três salários mínimos. O Banco Postal também já concedeu mais de R$ 300 milhões em empréstimos utilizando os 2% do depósito compulsório. Diferentemente do Banco Popular, que para a abertura de conta só exige o CPF e o RG, no Banco Postal, além de o número de documentos ser bem maior, é exigido um depósito mínimo de R$ 5.

Para este ano, novos produtos desenhados especialmente para as camadas sociais mais baixas deverão estar chegando junto com a entrada de outros gigantes do setor bancário. Nessa corrida pelos pobres, o Banco Popular quer sair na frente. Nos próximos meses, o banco estará oferecendo cartão de crédito, seguro de vida com auxílio-funeral, plano de capitalização e uma nova conta só para os poupadores. Também vão acontecer mudanças nas opções de pagamento dos empréstimos (limitados a R$ 600) que poderão ser pagos semanalmente. “Muitas pessoas, dependendo da atividade, recebem por semana ou até por dia de trabalho. Estamos aprendendo a lidar com um cliente que a gente não conhecia”, explica Guimarães, que pretende chegar a dez milhões de clientes em 2007.