Um dos primeiros movimentos
do novo presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), deverá ser o de colocar sob investigação as denúncias de troca-troca partidária por convicção meramente monetária. “Tenho ouvido muita história assim. Haveria deputados que receberam R$ 20 mil, R$ 30 mil para trocar de legenda. Não tenho provas, mas não consigo entender como é que um deputado entra num partido de manhã e sai à noite”, declarou Severino a ISTOÉ, na sexta-feira 18. Entre a eleição de 2002 e a derrota avassaladora da madrugada de terça-feira 15, só a bancada do PT, entre os governistas, cresceu pouco. Saiu de 90 para 91 cadeiras. Todos os outros aliados oscilaram violentamente: o PMDB, de 69 a 90; o PSB, de 16 a 28; o PP de 43 a 52, além de PL e PTB, que também cresceram. Em apenas três semanas, aconteceram 45 trocas. À medida que chegava o dia da eleição na Câmara e afunilava a sucessão da liderança no PMDB, acelerou-se o troca-troca, disparando os boatos sobre motivações financeiras que elevam a cotação dos deputados na hora de definir cargos e comissões. O caso mais flagrante foi o de Lino Rossi, que era do PDT em Cuiabá, passou pelo PSB e chegou a Brasília como deputado federal, em 2004, já pelo PSDB. Na segunda-feira 14, ele conseguiu permanecer exatas cinco horas e 48 minutos no PMDB, até voltar ao PP no final da tarde.

Além de filiações partidárias relâmpago, o novo presidente da Câmara tem outro bom motivo para se empenhar em investigar o troca-troca. O presidente do PMDB, Michel Temer, disse a ISTOÉ ter recebido informações de que haveria uma fita contendo a comprovação da venda de filiações oportunistas. “Dizem que haveria fitas gravadas pelo deputado Vladimir Costa, do PMDB do Pará”, afirmou Temer. O deputado, que seria o objeto da negociação, nega. “Não existe nada disso”, disse na tarde da sexta-feira 18. “Essa conotação de compra de votos não me convence. Em todos os partidos houve troca-troca para definição de comissões”, diz o líder do PMDB, José Borba.

“Existindo qualquer indício, eu mandarei a Corregedoria apurar e submeterei ao plenário a cassação do mandato”, garantiu Severino, lembrando que tudo isso só reforça a importância de uma reforma política: “Voto tem que ser de legenda, não do deputado”, diz Severino. “Tem que apurar e, se houver provas, concordo com o presidente da Câmara, é caso de cassação”, completa Temer.