A cidade de Franca, localizada na região nordeste do Estado de São Paulo, entre os rios Pardo e Grande, está em polvorosa. É de lá, a 400 quilômetros de São Paulo, que sairá o par de sapatos que o novo presidente usará para subir a rampa do Palácio do Planalto no dia 1º de janeiro. O da primeira-dama, Marisa Letícia da Silva, também. Só que ela será privilegiada: vai receber dez pares, um para a diplomação do marido, outro para a posse e mais oito para incluir em seu guarda-roupa. O dele, número 40, será preto, social, de couro de cabra por fora e couro de carneiro por dentro. Já está pronto. Os dela, número 35, ainda estão sendo confeccionados na fábrica da marca Carmen Steffens, criada pelo gaúcho Mário Spaniol há dez anos. Provavelmente os sapatos da primeira-dama para a posse serão cor de palha ou creme, diz Marcelo Tidy, responsável pelo marketing. Nunca terão saltos mais altos do que cinco centímetros, porque a sabedoria da primeira-dama é bem maior do que a andança e as horas em pé a que será submetida em Brasília. “Ela quer conforto”, diz Tidy.

Foi o prefeito da cidade, Gilmar Dominici (PT), que promoveu a consagração da indústria local num encontro com Lula no interior. E provavelmente é Dominici quem entregará o presente. O Sindicato da Indústria de Calçado de Franca, que reúne 400 empresas, está orgulhoso. Será a primeira vez que um presidente da República usará na posse sapatos da cidade. “Ficamos muito honrados com a escolha de nosso produto”, diz Américo Pizzo Júnior, diretor administrativo da entidade. “Especialmente porque foi iniciativa que partiu do próprio Lula.” Marisa acompanhava o marido e também foi contemplada.

Franca é o segundo pólo de produção de calçados no País, concentrando 6% do total nacional, com o equivalente a 29 milhões de pares/ano. Tem 20 mil empregados. O destaque de sua produção está nos artigos de couro voltados para o público masculino. No âmbito das exportações, o município detém 3% da movimentação gerada pelas indústrias brasileiras. São 360 fabricantes de calçados, 70% micro e pequenos; 20% de médio porte; e 10% correspondem a empresas de grande porte. Juntam-se a esse universo cerca de 200 fornecedores de insumos especializados; 20 fabricantes de equipamentos; oito agentes exportadores; e dois mil prestadores de serviços.

Luiz Inácio Lula da Silva, se quiser, pode provar o seu presente, confeccionado pela J. Jacometti, indústria que produz 400 pares de calçados por dia e está estabelecida há 15 anos no que se tornou o maior centro produtor de calçados masculinos do País. Os sapatos pretos estão lá – cidade de 288 mil habitantes, predominantemente industrial que, além de calçados, se destaca pelos cafés finos que produz, pela qualidade de sua pecuária leiteira e pelo garimpo de diamantes. Estão prontos para, de maneira sutil, colocar Franca na história do Brasil. Será com eles, afinal, que Lula chegará lá.