"Eu vou sacudir o Congresso. Minha voz vai ecoar em Brasília e eu vou despertar as mentes adormecidas e entorpecidas para libertar a nação das garras do poder mundial global.” É o que promete fazer o cardiologista Enéas Carneiro, do Prona (Partido de Reedificação da Ordem Nacional), que deverá ser o deputado federal mais votado do Brasil, segundo o Ibope. Com apenas 28 segundos no horário eleitoral gratuito, Enéas, que disputa uma vaga na Câmara por São Paulo, diz que o resultado das urnas não vai surpreendê-lo: “Tenho uma vida limpa, trabalho desde os nove anos e se tivesse três minutos seria presidente desde 1989.” Ele disputou as três últimas eleições residenciais. Ficou famoso com o bordão “Meu nome é Enéas” e em 1994 alcançou o terceiro lugar, com 4,6 milhões de votos, ultrapassando Quércia, Brizola e Espiridião Amin. Este ano, preferiu não arriscar. “Não considerem isso uma desistência, mas um recuo temporário e estratégico.”

O Prona não tem coordenador de campanha, marqueteiro e muito menos doações. “Não temos apoio de ninguém. Só contamos com aqueles poucos segundos e cada um financia seus gastos.” Enéas garante que vai continuar gritando. “Enquanto eu não vir crianças tocando violino nas ruas, como acontece no Exterior, farei questão de mostrar indignação com essa política.” Suas idéias são conservadoras e ultranacionalistas. Prega o não-pagamento dos juros, é contra a globalização, as privatizações e as “potências hegemônicas”. É ele quem vai defender o nosso nióbio. “Somos o maior produtor de nióbio do mundo e ele continua sendo vendido a preço de banana ao poder alienígena.” Para quem não sabe, “nióbio é um metal fundamental para a indústria pesada, que permite a construção de aviões supersônicos e trens sem trilhos”.

Enéas anda possesso com seu clone, Osvaldo Nantes Soares, candidato a deputado federal pelo PTB. Aproveita e solta os cachorros: “Este canalha, que se parece comigo até na maneira de se coçar, foi proibido de usar meu nome, mas continua dizendo que ele sou eu aonde vai. Foi visto numa carreata na companhia de uma senhora muito parecida com Havanir”. A dermatologista Havanir Nimtz, ex-aluna de Enéas, foi a segunda vereadora mais votada de São Paulo em 2000, com 87 mil votos. Ao contrário do mestre e de Havanir, o empresário Robson Malek, candidato ao governo, e o advogado Paulo César Corrêa, candidato ao Senado, não caíram na preferência do eleitor. “Não vamos ganhar, mas isso faz parte do sistema”, acredita o empresário, que encerra seu programa no horário eleitoral com o grito de guerra: “Meu nome é Malek.”