Cansados, desiludidos e até os que consideram ter cumprido sua missão política. Tem de tudo na safra de parlamentares que não disputam cargo eletivo no domingo 6. Dos 28 deputados e sete senadores nessa situação, a maior bancada é a dos decepcionados – encabeçada pelo deputado Carlos Eduardo Moreira Ferreira (PFL-SP). Homem da linha de frente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), seu mandato ficou marcado pela luta, em vão, por uma reforma tributária no País. Numa espécie de carta de despedida do Congresso, escrita em abril, Moreira Ferreira revelou o quanto a ação parlamentar é limitada. “O problema não são as pessoas, mas o sistema político brasileiro”, analisa. “Falta-nos democratizar a sociedade e suas representações.” Outro partidário desse argumento é o deputado Rubens Furlan (PPS-SP), que também não quer saber de Brasília. Para ele, a fama adquirida no Congresso rende mais piadas que prestígio. “O parlamentar de baixo escalão vive a síndrome da inutilidade”, diz.

No Rio, a decepção ficou por conta da postura do próprio partido nessas eleições. Jogam a toalha o deputado federal Milton Temer, que não conseguiu vaga para concorrer ao Senado, e o deputado estadual Hélio Luz, ambos do PT. Os dois seguem o caminho de ícones da esquerda carioca, como Wladimir Palmeira e Maria da Conceição Tavares, outros petistas desistentes. “Deputado federal não é emprego. Quem começa a repetir mandato não está cuidando de representar causas e, sim, interesses”, afirma Temer. Já Hélio Luz ficará de fora, pois acha que, numa reeleição, a garantia do próximo mandato passa por negociações nada nobres. Aos 57 anos, pretende descansar de seus 38 anos na labuta.

Há quem está deixando a vida de político por conta de projetos pessoais. O senador Pedro Piva (PSDB-SP) acredita que sua empresa, o grupo Klabin, precisa de sua presença. “Como senador, fico preso a uma larga agenda de compromissos. Como empresário, eu sou o próprio presidente da República”, brinca. Já o plano da deputada Esther Grossi (PT-RS) para 2003 é se dedicar a uma organização não-governamental na área de educação no projeto Escola Pós-Construtivista. O senador Arlindo Porto (PTB-MG) e o deputado Sampaio Dória (PSDB-SP) preferiram apostar, respectivamente, nas campanhas de Ciro Gomes (PPS) à Presidência
e na de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo de São Paulo. No caso do deputado Walfrido Mares Guia (PTB-MG), o afastamento do Congresso estava certo mesmo se não fosse o coordenador da Frente Trabalhista.
O motivo: seu trabalho como empresário.

Da velha guarda, os senadores Lúdio Coelho (PSDB-MS) e Francelino Pereira (PFL-MG), ambos com 81 anos, acreditam já terem dado sua contribuição como parlamentar. Mas a nova geração também usa o argumento de missão cumprida para justificar a desistência. “Meu
papel principal era o de formar opinião, e isso eu fiz bem”, avalia o deputado Antônio Kandir (PSDB-SP). A falta de motivação atinge
ainda o senador Waldeck Ornelas (PFL-BA). “Preciso de um novo desafio”, afirma o ex-ministro da Previdência. Sem dizer ainda quais
são seus planos para o ano que vem, após 20 anos dedicados à vida pública, ele confessa que está procurando emprego. “Sei que meus eleitores estão orgulhosos das minhas ações.”

Deixar uma boa lembrança na carreira parlamentar é, sem dúvida, o sonho de todo político. Que o diga o ex-governador Divaldo Suruagy, afastado de Alagoas para escapar do processo de impeachment em 1997. Eleito deputado federal pelo PST no ano seguinte, hoje ele prefere não arriscar uma nova disputa sob pena de ser lembrado como perdedor. “Tenho desconfiômetro. O Garrincha acabou a carreira em Juazeiro, e o Pelé, que parou antes, é uma glória até hoje”, compara.