Não só analistas políticos e econômicos projetam e fazem previsões de como será o País com um novo presidente, após oito anos de FHC. Em cima dos mapas astrológicos da Independência do Brasil e dos quatro principais candidatos ao Planalto (Lula, Serra, Garotinho e Ciro), outros estudiosos também realizam suas análises. Para aqueles que enxergam o céu além das estrelas, um fato importante começou aos dez minutos de 7 de setembro: a entrada da lua nova no céu do País. A incidência desta fase da lua no aniversário da Independência só acontece a cada 19 anos e é traduzida como um novo ciclo, com alterações profundas que atingem a estrutura da Nação e de seu povo. “A ocorrência de luas novas em 7 de setembro se deu, por exemplo, em 1888 e já refletia as mudanças na política e na sociedade com a libertação dos escravos e, um ano depois, com a Proclamação da República. Sob esta mesma influência, em 1891 Deodoro da Fonseca, por pressão dos militares, é eleito o primeiro presidente do Brasil, mas no fim do mesmo ano, ao fracassar na tentativa de um golpe, acaba por renunciar”, afirma o astrólogo Antônio Carlos Harres (Bola).

Seu estudo histórico vai mais longe. Em 1945, Getúlio Vargas renuncia, também por pressão militar, pondo fim ao Estado Novo. Em 1964, novamente se fez sentir os efeitos da lua nova: os militares derrubaram João Goulart. Bola chama a atenção para a semelhança entre os aspectos negativos do ciclo de plutão com a lua nova de 7 de setembro deste ano e os registrados em 1964. “Os candidatos que têm mais ligação com esse ciclo iniciado em 1964 são Lula (PT) e José Serra (PSDB)”, afirma. A astróloga carioca Cláudia Lisboa adverte que o futuro presidente terá de ser um conciliador para enfrentar pressões externas e internas. “A atual mudança de governo, já que essa fase de transição sempre foi extremamente delicada na história do Brasil, exigirá capacidade de harmonia e de diálogo para assegurar a governabilidade.” Ela lembra ainda que o Brasil é sacrificado pelas potências internacionais não apenas pela globalização. A tendência à dependência externa está “escrita” no mapa da Independência: Sol na casa 7.

Purificação – Para a astrologia cármica, que atua numa vertente mais espiritualista, o Brasil também passa por um período de mudanças. “Há nove anos, o País está purificando seu carma de poder, com o trânsito de Saturno, que é o planeta da cobrança espiritual, mas essa conjuntura muda no próximo ano”, afirma Dulce Regina da Silva, de São Paulo, que há 20 anos trabalha com esse segmento. Carma (do sânscrito) é o conjunto de ações – boas ou más – do homem e suas consequências no decorrer de suas muitas vidas. No caso de um país, é entendido como resultado das ações coletivas e da necessidade de vencer desafios. No mapa cármico do Brasil, o maior desafio é o uso do poder material e a má utilização do dinheiro público. “O próximo presidente não estará sob essa carga negativa nas questões de administração do dinheiro público. Foram anos de purificação em que muitos escândalos vieram à tona porque o céu cobrava este aprendizado”, esclarece. Agora, outras áreas estarão em evidência. “Em 2004, a necessidade apontada por Saturno será a de investir em projetos para crianças e jovens”, sugere Dulce.

Nos estudos de Cláudia Lisboa, em mapas natais, trânsitos e direções astrológicas dos candidatos no momento da eleição, manter a governabilidade é ponto-chave para qualquer um que for eleito. O candidato do PT está apoiado nos aspectos da transparência e da habilidade. “O planeta Vênus em Libra, um signo diplomático, lhe dá sutileza para fazer parcerias. Ele está revelando um dos melhores aspectos de seu mapa: a conciliação”, afirma. Segundo Cláudia, nas direções do petista o planeta Júpiter está em trígono (o mais harmonioso dos aspectos) com Plutão, o que dará a Lula, se eleito, uma grande força nos primeiros anos de governo. “Lula está muito fortalecido nas suas intenções de transformar o País. Ele manterá durante um certo tempo essa capacidade conciliatória. Depois, terá que transformar suas alianças.” A astróloga adverte que forças externas poderão dificultar o andamento da política por ele desenvolvida e o reflexo dessa tensão se dará na sua base. Mas isso não impede Lula de deixar mostrar a influência positiva de outro trígono na sua gestão: o de Netuno com Vênus. Esse aspecto é traduzido na conscientização de si e do que está em volta, na auto-estima, na capacidade de encantar, principalmente o eleitor. “Lula tem um histórico no seu mapa que é de descer e subir a pedreira. Esse trabalho incansável deixa marcas profundas no emocional. Mas tem um outro lado que é uma espécie de bênção: conseguir criar uma sintonia amorosa com o mundo, principalmente em relação ao social. E nesse aspecto pode ser comparado, na história, a Ghandi.”

Mas o Lulinha paz e amor, tal qual o movimento hippie no mundo, não perdeu seu espírito revolucionário. Escorpião, com ascendente também em Escorpião, ele faz juz ao signo: é um político indignado. Plutão, regente de Escorpião, na décima casa – a das grandes transformações profissionais –, reafirma sua vocação para remexer a sociedade, cutucá-la para mudar. “Ele sempre olha o que tem que ser transformado. É uma espécie de refinaria, pronta a purificar”, explica Cláudia. Mas a indignação e a tormenta de não aceitar as coisas como elas são incomodam, principalmente ao establishment. “Durante muito tempo, enxergou-se o Lula como um Escorpião ameaçador e não transformador. Com o tempo, achou o ponto de equilíbrio: transmutar com harmonia, sem destrutividade”, analisa. Os momentos difíceis de um governo seu não vão tirar de Lula a capacidade de criar novas regras e vê-las aceitas, ainda que contestadas. Já na visão espiritualista da astróloga Dulce, Plutão na casa da missão em aspecto negativo com o Sol na casa do carma indica que o maior desafio do petista é lidar bem com o poder coletivo. O magnetismo de agitar as massas que ele tem desde a época em que era sindicalista é o seu maior trunfo, tanto para o bem quanto para o mal. “Lula tem que saber usar essa força sedutora – que possivelmente não utilizou em outras vidas –, resistindo à vaidade, trazida por Leão em seu meio do céu. A favor de seus projetos sociais, ele tem a proteção de Júpiter, na casa do carma, em aspecto positivo com Urano, que lhe traz criatividade e altruísmo.”

Dificuldades – Para o adversário tucano José Serra, que é pisciano, os astros não conspiram contra em seu mapa natal, mas seus trânsitos, tanto para o primeiro quanto para um possível segundo turno das eleições, são bem mais difíceis que os de Lula e os de Garotinho, por exemplo. Aquário no ascendente o credencia como um político disposto a consertar, inovar. No caso de um governo seu, dificilmente se veria acomodação ou estagnação. A Lua em Áries lhe dá liderança e a influência desse mesmo signo sobre o seu o faz um contestador, emocionalmente impulsivo.

Já o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, que chegou a desequilibrar a balança eleitoral, esvaziou-se como um balão não somente pelos duros ataques de Serra. Um aspecto tenso entre Sol e Urano, potencializado por um eclipse lunar próximo ao seu nascimento, fizeram vir à tona um temperamento imprevisível, um emocional sem controle, assustando o eleitor. Apesar da sua capacidade transformadora, oriunda de seu signo Escorpião, astrologicamente Ciro se expandiu e, por falta de consistência, esvaziou-se. “Júpiter no meio do céu abre uma possibilidade de projeção surpreendente. Este planeta lida com excesso e expansão, mas tudo que passa do limite murcha”, explica. Em outro aspecto de seu mapa, Marte em conjunção com Júpiter, a impulsividade sobrepõe a razão. Age sem pensar e suas atitudes acabam por não representar aquilo que realmente acredita. Desafios ao longo da vida podem, em função dessa conjunção, ser interpretados de forma errada, fazendo com que despreze a força de um adversário ou dê importância demasiada àqueles que não oferecem riscos. Com relação ao mapa do Brasil, as atitudes ponderadas de um governo seu poderiam ser neutralizadas por um momento de impulsividade e isso lhe custaria, por exemplo, a perda de apoio externo. Na interpretação reencarnacionista de Dulce, Ciro utilizou de forma inadequada a agressividade e a liderança em vidas anteriores. Por isso, este é o seu ponto fraco. Sua maior conquista será aprender a liderar com equilíbrio e harmonia. “Libra no meio do céu na casa 10 lhe cobra isso, mas também lhe dá condições para vencer essa batalha”, analisa Dulce.

Segundo a Astrologia, os candidatos mais identificados com as transformações que o País necessita são Lula, Ciro – ambos de Escorpião, mesmo signo do meio do céu do Brasil – e Serra, devido ao posicionamento de Plutão em seu mapa. O meio do céu de um país vem a ser o poder, a Presidência da República, e estando ele num signo movido a transmutações profundas, o eleito, se quiser uma Nação mais justa e menos desigual, terá que agir como um cirurgião. “Extirpar o que há séculos vem nos fazendo mal, mas para cortar vai ter que dar anestesia”, aconselha Cláudia. Nos estudos de endividamento espiritual, uma coisa é certa: nenhum dos candidatos estaria pleiteando a cadeira presidencial para aumentar seus cofres particulares. O que já é uma ótima notícia.

No entanto, Serra está passando por uma quadratura (o mais difícil dos aspectos) de Saturno com Sol. O Sol, além de representar o carisma da pessoa numa posição de destaque, também simboliza o governo. “Serra está com trânsito de Saturno, que é uma espécie de ceifadeira. Os aspectos tensos desse planeta o impedem de chegar aonde quer.” Essa zona de tensão aponta ainda para o que se viu durante toda a campanha: as dificuldades que o tucano tem de costurar apoios. “Ele está perdido dentro da própria estrutura e passa isso para o eleitor.” Uma outra quadratura de Saturno, dessa vez com Netuno, planeta regente de seu signo, dificulta a realização do que tem sonhado. “O que ele acredita não flui de maneira segura, clara. Ele não está, astrologicamente, num momento ideal”, diz Cláudia. Os aspectos não mudam em caso de um segundo turno. “Ele terá de contar voto por voto para chegar lá. É como uma provação”. Na astrologia cármica, essa nebulosidade se dá pela oposição do Sol (na casa da comunicação) a Netuno na hora do nascimento do candidato. “Ele é forte e sensível, mas há um conflito entre o racional e o espiritual, o que provoca mal entendidos. Seu aprendizado nesta encarnação é transmitir seus conhecimentos de maneira sutil, simples e humilde”, analisa Dulce.

Na fé – Os caminhos astrológicos de Garotinho são mais positivos. Não será surpresa caso chegue à frente de Serra na corrida presidencial. Garotinho conta com a boa vontade dos astros. No entanto, o trânsito de Netuno em quadratura com Netuno e a progressão da Lua também em quadratura com Netuno são aspectos esvaziadores. “É como ser indicado para o Oscar e não ganhar”, observa Cláudia. Como revela seu mapa, Garotinho é um brigão contumaz, impulsivo e acredita que é capaz de chegar. “Ele segue o que crê e vence as coisas por essa capacidade incrível de não duvidar do seu potencial. Não abandona disputa alguma, mesmo que perca. Isso lhe dá força e credibilidade”, avalia Cláudia. O candidato do PSB, que nasceu sob o signo de Áries, tem um complicador em sua carta natal: uma dureza muito grande na sua estrutura emocional. Cláudia explica que isso faz com que Garotinho não tenha suavidade nas relações sociais, dificultando a conquista imediata do eleitor. “Ele não aceita que outras pessoas não acreditem em seus ideais, de que eles sejam os melhores. Isso cria uma barreira entre ele e o eleitor. Autocentrado, não consegue entender o porquê da discordância.” Não por acaso, seu carma principal é o da vaidade, do orgulho. Segundo Dulce, Mercúrio na casa 1, da personalidade, em aspecto negativo com Júpiter na casa 10, da missão, lhe confere certa pretensão. “Ele passa a imagem de que sabe tudo também por insegurança. Garotinho deve ficar alerta aos excessos e colocar em evidência o grande senso de justiça e generosidade que estão em seu mapa”, afirma. Nas análises de Cláudia, os aspectos astrológicos de Garotinho – conjugados ao mapa do Brasil – apontam que, se eleito, as mudanças econômicas por ele propostas teriam de enfrentar a desordem existente no próprio mapa da Independência.