Dilma Rousseff é a mãe do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. Ernesto Geisel era o pai do II PND, o Plano Nacional de Desenvolvimento. A ministra tem fama de durona, inspira medo nos subalternos e fala grosso, como se o tom de voz amplificasse sua autoridade. O general falava baixinho, mas também era autoritário e achava que entendia de qualquer assunto. Assim como Dilma, o alemão era vidrado num dossiê. Sua central de bruxarias era pilotada por dois especialistas: os generais Golbery do Couto e Silva, rei das intrigas na Casa Civil, e João Figueiredo, chefe da máquina de grampos do finado SNI, o Serviço Nacional de Informações. Dilma, quando resolve aprontar das suas, como no caso do (g)astronômico “banco de dados” de Ruth Cardoso, conta com o auxílio da assessora especial Erenice boa de Guerra. As afinidades entre o general da ditadura e a guerrilheira de esquerda são também ideológicas, por mais estranho que pareça. Ambos idolatram o Estado forte e a idéia de planejamento central.

Dilma Rousseff lembra o general. Ela é estatizante, adora um dossiê e também gosta de decidir os principais negócios do País

Os dois também fizeram pouco-caso da herança que receberam. Geisel chegou ao poder em 1974, após o “milagre econômico” conduzido por Delfim Netto. Enciumado, fez tudo o que pôde contra o “gordo”. Incapaz de compreender o mundo ao seu redor, que vivia o choque do petróleo, Geisel deixou como legado a crise da dívida externa. Dilma, por sua vez, subiu à Casa Civil quando José Dirceu tombou no escândalo do Mensalão. Naquela época, a ministra disputava o cargo com Antônio Palocci e definiu a política econômica do médico de Ribeirão Preto como “rudimentar”. Uma cotovelada justamente naquilo que hoje garante o tal “momento mágico” do País. Terá sido incompreensão ou oportunismo? Geisel, com sua obtusidade germânica, foi um dos piores presidentes da história do Brasil.

Dizem que era honesto, mas ele plantou a semente da grande corrupção nacional quando trouxe para os palácios de Brasília as principais decisões empresariais do País. Dilma, candidatíssima a ocupar o cargo que já foi de Geisel, também defende uma relação “íntima” entre o Estado e a burguesia nacional. Com mão de ferro, ela tem pilotado grandes negócios nas telecomunicações e na petroquímica, escolhendo “vencedores” em cada setor. Mais geiseliano, impossível. E, ainda que o general e a guerrilheira tenham lutado em campos opostos durante a ditadura, os dois são quase almas gêmeas.