Quanto tempo você gasta para ir ao trabalho e voltar para casa? A Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo fez esse cálculo e chegou à conclusão que um terço dos trabalhadores brasileiros (31,1%) – especialmente os que vivem nos grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de Janeiro – leva entre uma e quatro horas para fazer o percurso de ida e volta entre a casa e o local do serviço. Como tempo é dinheiro, todo esse desperdício tem um custo para quem trabalha e para o País. De acordo com o estudo da secretaria paulistana, a cada ano o Brasil e os seus trabalhadores perdem uma renda potencial de R$ 92,8 bilhões. Se uma parte desse dinheiro fosse incorporada ao salário, os trabalhadores teriam um aumento equivalente a 26%.

“Esse estudo demonstra o quanto o transporte é importante para a economia das cidades e do País”, diz o economista Márcio Pochmann, secretário de Desenvolvimento e Trabalho e responsável pelo levantamento que cruzou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, com números das empresas de transporte coletivo. A precariedade nos sistemas de transporte, o trânsito caótico nos grandes centros, a falta de grandes obras viárias como o metrô e a redução da renda explicam o aumento do tempo gasto na mobilidade envolvida no ir-e-vir ao trabalho desde 1992. No início dos anos 90, segundo o estudo, o trabalhador gastava em média uma hora por dia para sair de casa e chegar ao trabalho. Atualmente, a média nas principais regiões do país subiu para uma hora e 20 minutos, e nas zonas metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro o tempo gasto médio é 20 minutos maior
(uma hora e 40 minutos). Outro dado mostra a precarização da renda de quem trabalha: o porcentual de paulistas que declararam que estão indo e voltando a pé ao trabalho aumentou. Em 1997, eram 34,4%. Hoje, já somam 36,7%. Haja fôlego e sola de sapato.

A economista Rejane Faria não usa muito a sola do sapato para ir para o trabalho e voltar para casa. Em compensação, gasta entre quatro e cinco horas por dia (20 ou 25 horas por semana, um dia em média por semana) para se deslocar da Vila Mazzei, zona norte de São Paulo, até o terminal de ônibus da ponte João Dias, no extremo sul da cidade, onde exerce a função de analista de marketing em uma empresa de telefonia celular. Na quarta-feira 19, ela saiu de casa às 6h50 da manhã e fez o trajeto de ida em uma hora e 55 minutos. Levou quase o mesmo tempo para retornar à noite para casa. “Chegar ao trabalho é sempre uma questão de sorte e uma incógnita”, diz ela, que, na quarta-feira, não enfrentou grandes problemas: o metrô funcionou normalmente e o trânsito não atrapalhou o trajeto do ônibus. Paralisações no metrô e o trânsito pesado da capital paulista são os principais motivos que fazem aumentar o tempo, principalmente no trajeto de ida para o trabalho. Rejane utiliza dois ônibus e o metrô para atravessar a cidade. Na maioria das vezes, aproveita o tempo para ler, dormir ou resolver pendências por telefone celular, como a marcação de consulta médica ou falar com os amigos. Muitas vezes, dá para fazer tudo no caminho e ainda sobra tempo.