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Simonal: estigmatizado pela esquerda

Em seu livro O gogó de Aquiles (A Girafa, 296 págs., R$ 44), Aquiles Rique Reis, uma das vozes do grupo MPB4, afirma que Wilson Simonal (1939-2000) “é uma chaga aberta no peito da MPB”. Também diz que o cantor e entertainer foi massacrado por “quem fez o pior dos silêncios”.Como se sabe, Simonal passou por uma caça às bruxas às avessas quando, à época da ditadura militar, espalharam o boato, verdadeiro ou não, de que ele compactuava com os órgãos de repressão. Também dizem que o cantor morreu de desgosto, afogado na mágoa do álcool, sem ter conseguido provar sua inocência. Sob qualquer ponto de vista, contudo, o carioca Wilson Simonal de Castro é considerado um dos grandes intérpretes da MPB. Comprovante de peso é a caixa Wilson Simonal na Odeon (1961-1971) – projeto coordenado pelos filhos Wilson Simoninha e Max de Castro –, que revisita sua obra em 12 álbuns lançados pelo antigo selo, além de raridades e lados B de compactos que totalizam nove CDs acompanhados de um livreto.

Ouvindo os discos, percebe-se o quão devastador é o crescimento de Wilson Simonal como artista sintonizado com a evolução da música brasileira. Em 1963, quando gravou o LP Wilson Simonal tem “algo mais”, já tinha a doçura de um Nat King Cole, o grave erotizado de Frank Sinatra e todo o suingue e balanço negro-brasileiro. Com o tempo, passou a ser tão respeitado que a gaúcha Elis Regina, em início de carreira, ganhou o apelido de “Simonal de Saias”. Sua popularidade era tamanha a ponto de defender três canções no III Festival da Música Popular Brasileira, de 1967.

Mas fora da televisão, sob a ditadura militar, o Brasil era outro. Para o pessoal engajado, caso de Aquiles do MPB4, toda aquela alegria não passava de alienação. Quando o cantor se envolveu, em 1970, numa ocorrência policial, a desconfiança infundada passou a certeza homicida. Hoje, sem revanchismo, Simoninha – o filho mais velho que está prometendo um novo pacote com as gravações de Wilson Simonal posteriores a 1971 – diz que para ele basta a felicidade em lançar a obra do pai com um cuidado técnico invejável.