Fotos: Divulgação

Turguêniev: narrativa desenvolvida em tempos de mudanças profundas

Nada parece menos adequado à historicamente emotiva alma russa que o niilismo, filosofia que pregava o desprezo total por todas as emoções, valores e regras em vigor. Mas é a invocação do niilismo – mais que sua efetiva vivência – que permeia a obra-prima Pais e filhos (Cosac & Naify, 356 págs., R$ 42), do escritor russo Ivan Turguêniev. Lançado pela editora dentro da excelente coleção Prosa do mundo – que pretende recolocar à disposição do público brasileiro obras clássicas difíceis de localizar –, o livro é atualíssimo ao refletir os conflitos de gerações que, imediatismos à parte, sobrevivem até os nossos dias.

A narrativa de Turguêniev se desenvolve na primavera de 1859, época de profundas mudanças na estrutura da sociedade russa. Os focos de rebelião contra o sistema que obrigava os servos a trabalharem para os senhores da terra se alastravam e, pela primeira vez, a juventude exigia ser ouvida. Mesmo que nem sempre identificasse nitidamente seus anseios ou soubesse como e a quem dizê-los. É neste caldo de cultura efervescente que os dois jovens protagonistas chegam para um período de férias nas suas cidades de origem. Um é filho de família aristocrática e sente-se seduzido pela verborréia panfletária do outro, de origem pequeno-burguesa. Ambos chocam seus familiares ao se declararem niilistas – mas, ao longo da narrativa, a prática mostra que as emoções falam mais forte e que o coração jovem se recusa a aceitar as rígidas normas impostas.
 


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