Fotos: Jornal ABC Color

Eu acuso: Luis Alberto Rojas
(à dir.) implica o ex-ministro
Bower em trama

Luis Alberto Rojas está condenado a 25 anos de cadeia sob a acusação de ser um dos autores materiais do assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, ocorrido em Assunção em 23 de março de 1999. O atentado, como vem mostrando ISTOÉ desde o ano passado, foi uma farsa montada por políticos paraguaios para comprometer adversários do vice-presidente, que já estava morto quando se produziu a emboscada. Rojas foi denunciado por seu amigo Pablo Vera Esteche, condenado a 18 anos de prisão. Na terça-feira 18, Rojas escreveu uma declaração de próprio punho, à qual ISTOÉ teve acesso, declarando que Vera Esteche foi contratado pelo ex-ministro do Interior Walter Bower para fazer o papel de réu confesso. “Eu vivia na Argentina quando meu amigo Pablo Vera Esteche propôs, a mim e a Fidencio Vega, um bom negócio, que consistia em assumir o crime.
Pela proposta, eu seria condenado a cinco anos, mas receberia US$ 1 milhão e trocariam minha identidade. Quando perguntei quem fizera tal proposta, ele me disse: Walter Bower, o ministro do Interior.” Rojas diz que rejeitou a proposta.
Pouco tempo depois de saber que Vera Esteche tinha sido preso, ele recebeu a mesma oferta de US$ 1 milhão do cônsul paraguaio em Buenos Aires Rolando Goibaru. “Ao retornar ao Paraguai, fui preso e torturado. Me apertaram os testículos
e fui conduzido a Assunção encapuzado”, relata.

Segundo Rojas, Vera Esteche aceitou fazer o papel de réu confesso, tanto que recebeu condenação menor e, apesar de se apresentar como um dos assassinos de Argaña, “foi recebido e protegido como herói pelos filhos do vice-presidente e dos políticos que estavam no poder”. Para ele, o plano foi elaborado por Bower depois do fiasco do chamado “falso testemunho”. Trata-se de Gumercindo Aguilar, um alcaguete notório que “confessou” ter participado de uma reunião na qual representantes do general Lino César Oviedo, ex-comandante do Exército, teriam pago a quantia de US$ 1 milhão para assassinar Argaña. A “confissão” era rasteira, mas foi levada a sério pela Justiça, até que foi desmoralizada. Até que isso ocorresse, muitas pessoas foram presas arbitrariamente e torturadas. Depois de sair de cena, Aguilar foi assassinado, em setembro do ano passado. Há dois meses sua viúva, Ladislaa, acusou políticos como o ex-presidente Luiz González Macchi, de terem contratado seu marido para a farsa.

Além de Rojas e Vera Esteche, outras duas pessoas estão condenadas pelo falso atentado contra Argaña: o ex-major Reinaldo Servín e Constantino Rodas, vulgo Condorito, ambos com pena de 25 anos de prisão. Fidencio Vegas está foragido na Argentina. Servín e Condorito também alegam inocência e, igualmente em declarações de próprio punho, afirmam ter sido vítimas de propostas milionárias e, posteriormente, de torturas e maus-tratos na cadeia. Nas declarações, os três garantem que têm álibis que jamais foram considerados durante as investigações e no julgamento. Agora, resolveram denunciar tudo isso porque acreditam que a nova composição dos tribunais superiores do Paraguai e o clima político mais democrático permitem uma efetiva investigação em torno da morte de Argaña.

Condorito, Vera, Rojas e Servín não têm nada de santos: são conhecidos ladrões de carros. Mas essa quebra de silêncio por parte deles pode mudar definitivamente o desfecho de um dos mais trágicos casos de conspiração política da história do Paraguai. De 1999 até meados do ano passado, a versão oficial do atentado – de que este fora levado a cabo por pistoleiros a soldo de Oviedo – era quase incontestável. Sua aceitação levou à queda do presidente Raúl Cubas, aliado do general, e à ascensão do grupo argañista ao poder. Em agosto passado, ISTOÉ revelou, com base em laudos científicos, que o vice-presidente já estava morto quando ocorreu o atentado. Em abril, a revista trouxe à tona os testemunhos de um ex-secretário de Argaña e do único sobrevivente da emboscada, um motorista, que confirmaram a ocorrência da farsa. Agora, com as denúncias de torturas, será difícil às autoridades paraguaias escaparem das pressões que já existem no Paraguai para a reabertura do caso e dos olhares vigilantes de entidades internacionais de defesa de direitos humanos.

Depoimento de Rojas denuncia propostas de dinheiro e torturas sofridas na prisão