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Domingo 7 de outubro, Hotel PESTANA, zona sul da capital paulista. Minutos depois de fechadas as urnas, toca o celular do candidato à prefeitura de São Paulo Fernando Haddad. Do outro lado da linha estava João Santana, o marqueteiro do PT. Santana, com os números das pesquisas de boca de urna em mãos, saúda Haddad pela passagem para o segundo turno contra o tucano José Serra. E logo passa o telefone para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Principal fiador da candidatura de Haddad – até então um neófito em eleições –, Lula afaga o pupilo.

“Parabéns, Fernando, você está no segundo turno.” Haddad se emocionou, como reconheceu em entrevista à ISTOÉ na terça-feira 9. “Fiquei com os olhos cheios de lágrimas. Tive que me conter para não chorar. Claro, não fosse o Lula, não estaria aqui.”

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A ida do candidato petista para o segundo turno foi inequivocamente uma conquista pessoal de Lula. A exemplo do que havia acontecido com a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência em 2010, Lula teve de superar as desconfianças dos próprios petistas e de sua base de apoio. Lançou, numa aposta pessoalíssima, um nome desconhecido da população paulistana, que largou na disputa com apenas 3% das intenções de voto, mas, em contrapartida, não tinha rejeição e assumia um perfil técnico. “Ele vai representar o novo. A população da cidade de São Paulo quer um nome diferente e Haddad é o que encarna melhor esse perfil”, costumava repetir o ex-presidente em reuniões com dirigentes do PT, muitos deles incrédulos. Agora, mais uma vez, Lula promete valer-se de seu prestígio pessoal para assegurar o triunfo do seu candidato. O cenário anima o entorno do ex-presidente, pois é francamente mais alvissareiro do que o do início da eleição. Pesquisa do Datafolha, divulgada na quarta-feira 10, mostrou Haddad na liderança com 47% das intenções de voto, contra 37% de Serra. Confirmada a vitória nas urnas, ela se somará a outros êxitos do PT nas eleições municipais em todo o País.

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Os números que emergiram das urnas revelaram que o PT de Lula foi o campeão nacional de votos e amealhou mais de 17,3 milhões de eleitores. A legenda conquistou 627 municípios e elegeu 5.067 vereadores, o melhor desempenho desde sua fundação em 1982. Os resultados ainda podem ser mais significativos. O Partido dos Trabalhadores disputa em 22 dos 50 municípios onde haverá segundo turno. Nessas disputas, o principal adversário do PT será o PSDB, em seis municípios.

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O êxito petista joga por terra duas teses que começaram a ganhar corpo nas semanas anteriores ao pleito: a primeira é de que o julgamento do mensalão e a condenação do alto comando petista que ocupou o Palácio do Planalto durante o governo Lula, como o ex-ministro José Dirceu, liquidaria o PT. A outra tese afirmava que Lula perdera seu capital político. Os números mostram o contrário. O ex-presidente foi um importante cabo eleitoral no primeiro turno das eleições municipais, apesar de ter sido derrotado na capital mineira para Aécio Neves, na reeleição de Marcio Lacerda (PSB). E ter sofrido uma fragorosa derrota no Recife, onde o governador pernambucano, Eduardo Campos, elegeu na primeira rodada o socialista Geraldo Julio. “Lula é dirigente de uma máquina partidária poderosa e ele é a referência do PT”, avalia Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise. “Quem apostar no fim do PT e de Lula vai perder”, alerta João Santana.

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Apesar de ainda se recuperar de um câncer na laringe – sua voz ainda exige cuidados –, Lula estará presente nos principais palanques petistas no segundo turno das eleições. Nos últimos dias, o ex-presidente também ajudou a delinear a estratégia de campanha petista para os embates eleitorais marcados para o dia 28. Na segunda-feira 8, em almoço com Haddad, à base de arroz, feijão, bife e salada, na produtora de Santana, Lula fez uma leitura dos mapas eleitorais e começou a costurar os acordos políticos. Depois de conversar longamente com a presidenta Dilma e se encontrar com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o prefeito reeleito da capital carioca, Eduardo Paes, o ex-presidente acertou com o vice-presidente da República, Michel Temer, o embarque do PMDB na campanha paulista. Gabriel Chalita, que conquistou 13,6% dos votos no primeiro turno, vai trabalhar para eleger Haddad. Com o PRB, no entanto, as negociações não prosperaram. Dono de um patrimônio de 22% dos votos, Celso Russomanno e sua legenda preferiram adotar a neutralidade. “Queríamos ele no palanque”, admitiu o vereador reeleito José Américo Dias. Para outros setores do PT, porém, a ausência de Russomanno no palanque foi comemorada. Dessa forma, acredita-se que o PT evite uma nova saia justa com os eleitores, depois do desastre do apoio seguido da polêmica foto de Haddad e Lula ao lado de Paulo Maluf, do PP, meses antes do pleito. Preferencialmente, a agenda de Lula está sendo construída com base na eleição paulista, onde acontecerão cerca de dez minicomícios relâmpagos nos fins de semana com a presença de ministros, parlamentares e artistas. “Vamos avançar sobre todas as regiões da periferia onde o Russomanno foi bem votado e que tradicionalmente são redutos petistas”, revela o deputado Simão Pedro, coordenador de planejamento da campanha de Haddad.

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Mas, de olho no desempenho eleitoral do PT no segundo turno, o envolvimento do ex-presidente Lula vai além das fronteiras da cidade de São Paulo. Na última semana, o petista decidiu marcar presença em palanques na região Nordeste, principalmente em Fortaleza (CE) e Salvador (BA). Na capital baiana, a luta entre o carlismo e o petismo prevê uma guerra sem tréguas. No primeiro turno, ACM Neto conquistou 40,17% dos votos e o seu concorrente petista, Nelson Pelegrino, somou 39,70%. Para Lula, essa é uma batalha particular. O ex-presidente não se esquece que ACM Neto foi um de seus principais opositores no Congresso durante a CPI dos Correios, que investigou o mensalão. Além disso, uma eventual derrota do oposicionista DEM pode ferir de morte o partido. Nessas eleições a legenda perdeu 224 prefeituras espalhadas pelo País.

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A disputa em Fortaleza será acompanhada com lupa pelo ex-presidente. Na cidade, o PT tem uma chance de continuar no poder e desbancar a família Cid Gomes e o PSB. A disputa está parelha. O candidato petista, Elmano de Freitas, chegou ao segundo turno com 25,4% dos votos, acompanhado de perto pelo seu concorrente socialista, Roberto Cláudio, que saiu das urnas com 23,3%.

Foto: Michel Filho/O Globo
Fotos: Paulo Pinto; Ronaldo Silva; Fabio Lima; Valeria Abras


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