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VENCEDOR?
Reeleito pelaterceira vez, Hugo Chávez agora enfrenta uma oposição sólida

No domingo 7, um triunfante Hugo Chávez surgiu na sacada do Palácio de Miraflores, no centro histórico de Caracas. Diante da multidão de simpatizantes, Chávez, que acabara de ter sua terceira reeleição consecutiva sacramentada, apareceu com uma réplica da espada do libertador Simón Bolívar nas mãos, alegoria planejada para demonstrar sua força como o líder sul-americano há mais tempo no poder. Afinal, já são quase 14 anos no comando do país. Com o aval das urnas, o caudilho agora pode chefiar a Venezuela até 2019. Apesar da pose, era visível que algo estava diferente. A começar pelo discurso de Chávez, que evidentemente captara a alteração do cenário político. Capitaneadas pelo ex-governador Henrique Capriles, as forças contrárias ao chavismo tiveram, pela primeira vez, chances concretas de ocupar o poder. Não à toa, a virulência das falas de Chávez deu lugar à admissão de erros na sua gestão e ao inédito reconhecimento do papel da oposição. “Acreditem, mantive uma conversa telefônica amena com Capriles”, disse ele, que durante toda a campanha só se referia ao rival como “majunche” (perdedor).  “Convido todos à unidade nacional.” O autoproclamado comandante da República Bolivariana parece reconhecer que o futuro de seu projeto político, marcado pela radicalização, será árduo e cercado de incertezas.

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DERROTADO?
Com 44,97% dos votos, Henrique Capriles saiu das
urnas como uma alternativa real a Hugo Chávez

Até o estado de saúde de Chávez gera dúvidas. Apesar de, em julho, ter alardeado a cura de um câncer na região pélvica, a real condição física do presidente é mantida como segredo de Estado. O líder venezuelano, 58 anos, nunca revelou a gravidade da doença e, por mais de 100 dias, esteve em Cuba para fazer cirurgias, sessões de quimioterapia e radioterapia. Durante a campanha, a ausência dele em eventos chamou a atenção dos venezuelanos. Até o próprio Chávez chegou a declarar que não seria o presidente onipresente do passado. Personalista, ele sempre obstruiu o surgimento de um herdeiro político. Um reflexo disso é que, mesmo após a apuração dos votos, os venezuelanos ainda aguardam a definição de quem ocupará a vice-presidência. A escolha cabe ao mandatário do Palácio de Miraflores. Em entrevistas após ser reeleito, a única menção do presidente sobre o tema é que o seu atual vice, Elías Jaua, deverá ser substituído.

Apesar de ter vencido as eleições em 21 dos 23 Estados, Chávez enfrenta o fortalecimento da oposição. Se por diversos pleitos as forças contrárias ao chavismo insistiam em não participar de disputas, adotar estratégias golpistas ou competir entre si, agora promovem uma queda de braço com o governo aglutinadas na Mesa de Unidade Democrática (MUD). O grupo reúne mais de uma dezena de siglas ligadas a diferentes correntes ideológicas, mas com um projeto em comum: derrotar Hugo Chávez nas urnas. Foi com um discurso moderado – reconhecendo os avanços sociais obtidos nos governos Chávez, que fizeram do país o menos desigual da América Latina – que o jovem Henrique Capriles obteve 44,97% dos votos venezuelanos. “Da eleição de 2006 para esta, crescemos mais de dois milhões de votos”, analisou o representante da MUD, Freddy Vallera. Capriles saiu das urnas derrotado, mas passou a ser visto como uma alternativa ao modelo chavista, que ele critica pelo autoritarismo. “Agora existe uma oposição mais consolidada, com liderança e opções para o futuro”, disse o presidente do instituto de pesquisa Datanálisis, Luis Vicente León.

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Chávez terá de enfrentar uma série de problemas até então negligenciados. A criminalidade aparece em levantamentos como a principal preocupação dos venezuelanos. Dados de ONGs apontam que, no ano passado, ocorreram cerca de 19 mil homicídios no país. Quinta maior produtora e dona das maiores reservas mundiais de petróleo, a Venezuela passa por dificuldades econômicas. Em vez de virar sinônimo de prosperidade, os petrodólares levaram a nação a uma quase total dependência de produtos fabricados no exterior. Em 2011, o país registrou inflação de 27,6% – índice que se deve, em boa medida, ao fato de importar 70% do que consome. A falta de investimentos em infraestrutura e o clima de insegurança para investidores, em decorrência das nacionalizações promovidas por Chávez, têm levado o país à desindustrialização, que se reflete no sucateamento de sua principal fonte de divisas: a estatal petrolífera PDVSA. Para se ter uma ideia, a empresa, que sofre com quedas de produção, possuiu uma centena de áreas de negócio não relacionadas a energia. Outra parcela significativa de suas divisas é comprometida com vendas subsidiadas a nações alinhadas ao chavismo, como Cuba. O socialismo do século XXI de Hugo Chávez parece aprisionar o país a uma realidade do século passado.  

Fotos: Fernando Llano/ ap photo; Carlos Garcia Rawlins/Reuters