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UNIÃO DE GIGANTES
Edson Bueno se tornou o maior acionista individual e o único
estrangeiro entre os dez conselheiros do grupo americano UnitedHealth

Na segunda-feira 8, o setor de saúde brasileiro deu o primeiro passo para uma profunda transformação. A compra da brasileira Amil, líder no País, pela americana UnitedHealth, maior companhia do setor nos Estados Unidos, abre as portas para gigantes internacionais em um mercado que se prepara para suprir uma demanda que, até 2015, deve crescer 12%. A United pagou US$ 4,9 bilhões por 90% do capital da Amil. Na nova configuração societária, o médico-cirurgião Edson de Godoy Bueno, um ex-engraxate que se tornou um dos empresários mais bem-sucedidos do Brasil, passa a ser o maior acionista individual e um dos dez conselheiros (o único estrangeiro) do grupo americano. “A parceria nos permitirá trazer tecnologias, serviços e programas clínicos para reforçar a saúde no Brasil”, diz Bueno. Segundo Stephen J. Hemsley, presidente da United, o que tornou o negócio interessante é o tamanho do mercado brasileiro e seu potencial ainda pouco explorado. “A Amil é a oportunidade de crescimento mais atraente que vimos em muito tempo”, declarou o executivo.

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Há no País 1,6 mil empresas de planos de saúde que atendem 25% da população brasileira. Nos Estados Unidos, esse percentual é de 80% – diferença que, por si só, revela o imenso espaço ainda não ocupado no Brasil. A United quer explorar principalmente o avanço da classe C, faixa econômica que, na avaliação da empresa, tem sido esquecida pelas grandes operadoras que atuam no mercado brasileiro. A baixa concentração é outra característica do setor que deve mudar. Segundo especialistas, ela não só contribui para a escassez de companhias que tenham presença nacional como dificulta o aparecimento de empresas sólidas e com tamanho suficiente para formar e oferecer aos beneficiários profissionais mais preparados. De acordo com Carlos Suslik, sócio-diretor e especialista em saúde da PricewaterhouseCoopers (PwC), a expertise americana será benéfica para o País. “Uma das principais diferenças entre o modelo de saúde americano e o brasileiro é que nos Estados Unidos os medicamentos estão incluídos nos planos de saúde”, diz Suslik. “No Brasil não existe a cobertura para medicamentos ambulatoriais, e em algum momento precisaremos evoluir para esse patamar.”

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Para os consumidores, a chegada de grandes grupos estrangeiros deverá ser mesmo positiva. “Essa compra é apenas a ponta de um iceberg”, afirma Lauro Carlos Miquelin, diretor da L+M GETS, empresa especializada em gestão de saúde. “A tendência é haver uma melhora na relação entre operadoras, hospitais e centros odontológicos.” Com uma integração melhor, os clientes terão, portanto, acesso a mais produtos e serviços. Para Oscar Malvessi, coordenador do curso de fusões e aquisições da Fundação Getulio Vargas (FGV), as corporações estrangeiras devem trazer novas tecnologias para o País. “Os Estados Unidos têm uma longa experiência nessa área e podem contribuir muito para o mercado brasileiro”, diz. Um ponto-chave é a questão do preço dos convênios. Malvessi acredita que a consolidação do setor deve aumentar a competitividade entre as empresas e a tendência seria a redução dos valores cobrados. Se isso realmente acontecer, compras como a da Amil vão significar um grande negócio para os brasileiros.