As próximas semanas serão decisivas para o combate da Síndrome Aguda Respiratória Grave (Sars), conhecida como pneumonia asiática. Na quinta-feira 10, os laboratórios mobilizados pela Organização Mundial de Saúde anunciaram ter identificado de modo mais preciso o agente associado à doença. Cientistas usaram diversas técnicas – entre elas, um sofisticado método de análise molecular, o RT-PCR – para isolar o microorganismo. Como se suspeitava, trata-se de um novo vírus da família
dos coronavírus, micróbio que pode causar resfriado. Os pesquisadores querem batizá-lo com o nome do médico italiano
Carlo Urbani, que atendeu os primeiros casos da epidemia. Ele morreu em virtude da doença.

A conclusão dos cientistas corrobora um trabalho de pesquisadores de Hong Kong, também apresentado na semana passada. Eles desenvolveram um teste para identificar a Sars. Os resultados, publicados na revista científica The Lancet, são animadores. “Com amostras de dois pacientes, os pesquisadores isolaram o coronavírus, multiplicaram partes do microorganismo e criaram um teste”, diz o infectologista Sérgio Wey, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo. “O teste deu positivo em 45 das 50 pessoas avaliadas”, completa.

No Brasil, também existe um exame em desenvolvimento que pode identificar a Sars. Ele foi feito por 15 cientistas chefiados pelo virologista Paolo Zanotto, da Universidade de São Paulo (USP) e da Rede de Diversidade Genética Viral, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Para criar o teste, os brasileiros usaram informações sobre coronavírus de animais. Até a quinta-feira 10, eles aguardavam amostras de secreções de indivíduos com suspeita da doença para aplicar o exame.

Mesmo com o avanço, ainda há dúvidas. Acredita-se que os exames criados até agora sejam eficientes apenas na fase em que a doença é transmissível e desconfia-se que possa existir uma janela imunológica (fase em que a presença do vírus não é detectada por testes). “Ainda estamos muito no começo”, diz Zanotto.

Apesar dos esforços, a epidemia se espalha com velocidade. Na quinta-feira 10, havia 2.781 casos no mundo e 111 mortes. No Brasil, ainda há conflitos nos procedimentos para lidar com a ameaça. O menino Jason Liang, de quatro anos – até quinta-feira suspeito de ter a doença, segundo o Ministério da Saúde –, foi atendido no Hospital das Clínicas de Campinas (SP) e liberado na quarta-feira 9 com recomendação de isolamento familiar de sete dias e uso de máscaras em casa, em Sorocaba (SP). “Ninguém sabe direito o que fazer. A produtora inglesa Sally Blower, o primeiro caso suspeito no Brasil, ficou dez dias em isolamento. Então, o menino com risco de ter Sars só deveria ir para casa se faltassem leitos, o que não ocorre. Descartada a hipótese da doença, deveria ser liberado sem isolamento”, afirma o infectologista David Salomão Lewi, da Universidade Federal de São Paulo. Sally deixou o hospital na quinta-feira.

Essas e outras questões foram discutidas num encontro na quinta-feira, em Brasília, entre representantes do Ministério da Saúde, portos e aeroportos, secretarias estaduais e hospitais de referência do País. “Cada país atua de um jeito e as regras estão mudando. Estamos discutindo se os pacientes com suspeita de Sars devem ficar dez dias no hospital a partir do início dos sintomas ou ser liberados entre 48 e 72 horas depois do término da febre”, diz Eduardo Hage, coordenador-geral de Vigilância Epidemiológica do País.

Na prática, a família Liang descumpriu ou não entendeu algumas recomendações. No dia em que o menino saiu do hospital, sua
mãe foi trabalhar na lanchonete da família, o que não deveria ter acontecido. A atitude fez com que as autoridades de saúde locais determinassem acompanhamento médico e social diário. Além disso, na quinta-feira um guarda municipal estava postado à frente do prédio para controlar visitas aos Liang.