Quem viu imagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos dias certamente deve ter notado um semblante mais carregado em vários momentos. Tudo indica que a fisionomia não é resultado de mau humor ou preocupação. Na verdade, Lula voltou a sentir fortes dores no ombro direito, afetado pela síndrome do impacto, mal que pode atingir 14% da população adulta. Como o próprio nome diz, o problema é consequência do impacto que movimentos do dia-a-dia, como levantar o braço para pegar algo na prateleira mais alta do armário, causam nas articulações dessa região. A bolsa (bursa em latim) – estrutura do esqueleto que funciona como um amortecedor – acaba ficando inflamada. O fenômeno é conhecido como bursite. A síndrome pode se agravar e inflamar também os tendões, causando a tendinite.

Até agora, Lula vem se submetendo ao tratamento tradicional, prescrito pelo médico paulista Sérgio Checchia, cirurgião de ombro. Ele se baseia no uso de antiinflamatórios, na execução de exercícios de fisioterapia e na realização de sessões de acupuntura para aliviar a dor. Mas ao que parece, o resultado não tem sido satisfatório. E, para agravar a situação, há cerca de 20 dias Lula caiu sobre o ombro esquerdo durante uma partida de futebol. O incômodo foi tanto que obrigou o presidente a se submeter a exames, na semana passada, no Instituto do Coração, de São Paulo. Diante desse quadro pouco animador, a recomendação dada a Lula é a de que ele se submeta a uma cirurgia para tentar acabar de vez com o problema. De acordo com seus assessores, porém, o presidente ainda não decidiu se fará a operação.

Em geral, a intervenção cirúrgica é o último recurso contra a síndrome
do impacto. Ela só é indicada quando o tratamento não apresenta
os resultados esperados. “Cerca de 15% das vítimas da síndrome do impacto precisam recorrer a este procedimento”, informa o médico
Benno Ejnisman, cirurgião de ombro da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp). O restante, 85%, responde bem ao tratamento.
Segundo os especialistas, a cirurgia é simples e dificilmente coloca
a vida do paciente em risco. Os problemas que podem surgir são
comuns a qualquer operação, como a ocorrência de infecções bacterianas ou o comprometimento de alguma estrutura do ombro.
“Mas os riscos são mínimos”, reforça o reumatologista José Goldenberg, professor livre-docente da Unifesp.

Imagens – Uma das formas mais modernas deste tipo de cirurgia é a artroscopia. Se o presidente for operado, certamente será submetido a esta técnica. Neste procedimento, o paciente recebe anestesia geral e também anestesia local, que dura mais do que a sedação geral, para evitar que ele tenha dores na região no pós-operatório. São feitos três pequenos cortes no ombro. Em um deles, é colocada uma câmera acoplada a um vídeo para que o médico visualize o interior do organismo. Nas outras duas incisões, são introduzidos instrumentos e aparelhos que eliminam a inflamação da bolsa e dos tendões (mais detalhes no quadro abaixo). Os índices de sucesso da cirurgia são de cerca de 90%, com recuperação total da região. “Dificilmente o paciente volta a sentir dor, a não ser que a articulação esteja muito comprometida”, explica o médico Caio Moreira, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia. Para garantir que tudo correrá bem, os especialistas recomendam que, se for realmente necessária, a cirurgia seja feita o mais rápido possível para que a lesão não se agrave demais.

A operação dura cerca de uma hora e meia e o paciente costuma passar apenas uma noite no hospital. A recuperação irá variar de acordo com as condições de saúde de cada doente e é gradativa. Alguns cirurgiões indicam o uso de tipóia para imobilizar o braço por uma semana. No caso do presidente, seu médico irá decidir a questão. Provavelmente, ele poderá voltar a assinar documentos depois de dois dias. Para poder jogar uma partida de futebol, precisará esperar cerca de três meses. A recuperação também inclui a realização de exercícios de fisioterapia por três meses e a utilização de antiinflamatórios.

Cuidados –

Com ou sem cirurgia, é fundamental tratar a síndrome do impacto. Isso porque a dor pode fazer com que o paciente tenha muita dificuldade em movimentar o braço – e com o tempo o ombro corre o risco de perder sua mobilidade. Também ajuda no tratamento evitar fazer movimentos com o braço acima da altura do ombro, pois o impacto na região acaba sendo maior. Os professores, por exemplo, devem tentar escrever com o braço abaixo do ombro. A dona-de-casa também precisa ficar atenta. “Quando for pegar um produto no alto do armário, o melhor a fazer é subir numa cadeira para não precisar esticar o braço”, exemplifica o reumatologista Jamil Natour, da Universidade Federal de São Paulo. Seguindo esses conselhos, é possível prevenir e combater o problema. Se o presidente Lula fizer essa lição de casa, seus admiradores continuarão recebendo seu aceno. Mas com um semblante mais feliz.