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Deve sobrar menos dinheiro no bolso do brasileiro para ir às compras neste fim de ano em relação ao que restou no Natal de 2010 e de 2011. Depois de pagas todas as despesas obrigatórias com alimentação, moradia, vestuário, transporte, educação, saúde e crediário, R$ 282 por família por mês estarão disponíveis para consumo de hoje até o fim de dezembro.
 
Essa cifra é quase 30% menor em relação à que sobrou no ano passado (R$ 396) e 40% abaixo da disponível no último trimestre de 2010 (R$ 477), quando o Natal foi o melhor da década. A disponibilidade de recursos para consumo neste ano só não é inferior à obtida em 2009. Sob o impacto da crise financeira internacional, restaram, no quarto trimestre daquele ano, R$ 243 por mês para cada família gastar.
 
As cifras fazem parte da Pesquisa Trimestral de Intenção de Compra do Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração (Provar/FIA). Os cálculos levam em conta informações trimestrais obtidas de 500 consumidores, com renda média familiar atualizada de R$ 3 mil, que foram combinadas com a estrutura de gastos das famílias, apurada pela Pesquisa de Orçamento Familiar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
"É uma redução bem significativa na sobra de dinheiro para consumo neste fim de ano", afirma o presidente do Conselho do Provar, Cláudio Felisoni de Angelo, responsável pela pesquisa. Ele ressalta que o elevado endividamento, assumido pelos consumidores no passado, quando os juros eram mais altos, ainda pesa no orçamento familiar.
 
Além disso, os estímulos dados pelo governo às compras financiadas, por meio da redução das taxas de juros e dos impostos sobre os bens duráveis, ampliaram recentemente a parcela dos gastos com crediário na renda familiar. Prova disso é que, no segundo trimestre, por exemplo, a fatia da renda familiar comprometida com pagamento de prestações do crediário era de 16,1%. E, neste trimestre, subiu para 18,9%, aponta a pesquisa.
 
O maior comprometimento da renda familiar com prestações deve resultar num Natal fraco, prevê Felisoni. "O Natal não vai ser exuberante, nada fantástico como o de 2010. Provavelmente, teremos um crescimento real entre 3% e 4% no faturamento. Isso é perfeitamente factível", afirma o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.
 
Também a Associação Comercial de São Paulo (ACSP) projeta crescimento moderado entre 3% e 4%. Até setembro, no entanto, o aumento no número de consultas para vendas a prazo e à vista, registrado pela entidade, ficou abaixo do intervalo de crescimento previsto para o Natal. Foi apenas 2,6% acima do volume obtido em 2011. Como a renda deve continuar crescendo e o crédito estimulado, Felisoni diz que o que pode desequilibrar o cenário do consumo é a inadimplência.
 
Reação
 
"As chaves da recuperação da economia estão com o governo e com o setor privado", diz o economista da ACSP, Emílio Alfieri. O governo já está atuando com incentivos ao consumo e o setor privado está tentando equacionar a inadimplência. Nesse sentido, as lojas começaram a fazer a sua parte.
 
Nos últimos meses, várias empresas especializadas em informações financeiras anteciparam as campanhas de renegociações de dívidas em atraso. A intenção é que desta vez o 13.º salário seja usado para consumo, não para o pagamento de dívidas em atraso, como tem ocorrido nos últimos anos.
 
O impacto dessa estratégia do comércio já se traduziu em números. No mês passado, o índice de inadimplência líquida apurado pela ACSP teve resultado negativo. O indicador, que é calculado com base no saldo entre carnês inadimplentes e renegociados em relação às vendas de três meses anteriores, caiu 0,3%. Isso significa que o número de dívidas renegociadas superou o de novos carnês com prestações em atraso.
 
Também em setembro, pelo segundo mês seguido, o índice de inadimplência foi inferior ao obtido em igual período do ano passado. "Com a antecipação das renegociações, o comércio quer exorcizar o calote. Com isso, o desempenho do Natal pode surpreender", pondera Alfieri.
 
O resultado de vendas do Natal é a peça-chave para o ritmo de recuperação da atividade, especialmente porque dará o tom do ritmo da indústria no início de 2013. Normalmente, a data multiplica por dois o faturamento do varejo no último trimestre. 
 


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