No próximo dia 31, o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade faria 100 anos. Considerado, ao lado de Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto, um dos mais importantes poetas brasileiros, ele será alvo de muitas homenagens. Já se multiplicam pelo País saraus de leitura de poemas, e seu site oficial www.carlosdrummond.com.br, no momento em reforma, em breve será reaberto. Também joga nova luz sobre o poeta o livro Coração partido – uma análise da poesia reflexiva de Drummond (Cosac & Naify, 160 págs., R$ 25), de David Arrigucci Jr., tido como dos maiores críticos brasileiros da atualidade. Paralelamente, a editora Record – detentora dos direitos da obra de Drummond, cuja vendagem ultrapassou os dois milhões de exemplares – continua o trabalho de relançamento de seus livros. Além do popular José, vem aí em prosa ontos plausíveis, Os dias lindos e Fala, amendoeira. O auge das comemorações, porém, certamente é o lançamento do CD Reunião – o Brasil dizendo Drummond, uma idéia do produtor e letrista Paulinho Lima, dono do selo Luz da Cidade, em conjunto com Pedro Drummond, neto do homenageado.

Adornado com a reprodução da magnífica tela Retrato de Carlos Drummond de Andrade, de Cândido Portinari, pintada em 1936, o estojo traz quatro CDs com 150 poemas declamados por 148 fãs, famosos ou não. Os poemas de abertura, Mãos dadas, e de encerramento, Obrigado, estão na voz do próprio autor. Gravados em estúdios do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Minas Gerais, os poemas inicialmente seriam lidos exclusivamente por atores, como Othon Bastos (Política), Ney Latorraca (Poema de sete faces) ou Miguel Falabella (José). Mas, ao saber que Pelé havia escrito o prefácio para a nova edição de Quando é dia de futebol (Record, 276 págs., R$ 30), Paulinho Lima o convidou para ler Futebol, abrindo então opções para interessados de quaisquer áreas. Assim, surgiram o poeta Paulo Alberto Ventura, que enviou uma fita com Poema patético; a professora Miriam Brandão – encontrada em Itabira, terra de Drummond –, que declamou Canção para álbum de moça; o publicitário Mauro Salles, com Resíduo; e até a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, com Amor. Na área dos cantores, Zélia Duncan declamou O homem; as viagens, que sabia de cor desde a adolescência, Arnaldo Antunes, F, e Gabriel O Pensador, Especulações em torno da palavra homem.

Mais fãs famosos também aderiram. Chico Buarque lê O lutador; a escritora Edla van Steen, Retrato de família; o político Aécio Neves, Lanterna mágica – v/São João Del-Rei; e a poeta Elisa Lucinda, Aos namorados do Brasil. Ary de Andrade, um dos últimos amigos de Drummond, falecido aos 92 anos, no mesmo dia do poeta, 17 de agosto, ainda conseguiu gravar Castidade. O mesmo aconteceu com o escritor Roberto Drummond, que leu Cota zero. Um dos momentos mais emocionantes do disco é a leitura de Caso do vestido, na voz de Tônia Carrero. A atriz já o havia interpretado várias vezes, inclusive diante do autor.