Naquele povoado poeirento, perdido no tempo e no próprio México, só resistem a pasmaceira dos homens e a impotência rancorosa das mulheres. Sob um sol implacável, as únicas figuras que se movem são viúvas de mantos negros, desprovidas de qualquer fagulha de humor. Caso da piedosa Dolores (Elisabeth Margoni), mulher gordinha e boa, muito boa. Tão boa que seu marido Manolo (José Sancho) sempre tem engulhos ao vê-la suportando com um sorriso beatífico os desaforos dos ingratos à sua generosidade. Cansado de tanta
virtude, Manolo deixa a cidade e a mulher louca diante da contradição de ser abandonada por excesso de bondade. Esta é a primeira parte
de Sexo por compaixão (Sexo por compasión, Espanha/México, 1999), em cartaz em São Paulo, filme de estréia da atriz e agora diretora espanhola Laura Mañá.

Mas, com o passar do tempo, Dolores se transforma numa prostituta insaciável. E, conforme cresce seu inocente desejo de recuperar o marido, a tela substitui as imagens em preto-e-branco por cores quentes, fazendo com que a história adquira um tom brejeiro, a meio caminho dos textos do escritor peruano Mario Vargas Llosa e do dramaturgo brasileiro Dias Gomes. Para desespero de Dolores, agora conhecida como Lolita, sua compulsão não a torna uma pecadora. Ao contrário, contribui para dignificar ainda mais sua aura de bondade, passando a ser vista como santa. É quando o marido retorna e a confusão se resolve de maneira inesperada. Premiado em vários festivais pelo mundo, Sexo por compaixão integra a nova safra de filmes latinos, produzida por competentes criadores que se distinguem pelo humor e pela independência dos temas.


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