A sexualidade feminina começa a receber cada vez mais atenção dos cientistas. O tema mereceu discussões no 10º Congresso Mundial da Sociedade Internacional de Pesquisas sobre Sexualidade e Impotência, realizado na semana passada no Canadá. “Nos últimos anos, os médicos começaram a estudar mais o aparelho genital feminino e isso possibilitou investigar novas formas de tratamento”, diz o urologista Jeremy Heaton, coordenador do congresso. Para a psiquiatra brasileira Carmita Abdo, da Universidade de São Paulo (USP), os especialistas passaram a se interessar pelo assunto porque perceberam que o sexo é um indicador da saúde. Hoje, ninguém duvida de que manter relações sexuais de qualidade faz bem ao corpo e à mente tanto do homem quanto da mulher.

Carmita alerta, porém, que muitas mulheres não estão desfrutando desse prazer por sofrer de disfunções sexuais. São casos de dor no momento da relação, falta de excitação e de desejo e dificuldades de atingir o orgasmo. Esses problemas podem ser provocados por fatores físicos, emocionais ou pela combinação de ambos. Os números comprovam a extensão do problema. O Estudo do Comportamento Sexual Brasileiro, feito por Carmita e pelo laboratório Pfizer, mostra que 49% das brasileiras a partir dos 18 anos têm algum tipo de disfunção.

Mas há esperança de reverter o quadro. O Viagra, a pílula azul da Pfizer, está ganhando contornos cor-de-rosa. Ao menos nas mãos dos pesquisadores. Neste ano, um trabalho italiano já havia apresentado pistas que podem facilitar o prazer das mulheres. Agora, um estudo patrocinado pelo fabricante do remédio – e divulgado durante o congresso canadense – dá sinais de que o sildenafil, o princípio ativo do medicamento, tem boas chances de funcionar entre as lulus. A pesquisa foi realizada pela educadora sexual Laura Berman, professora da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Ela analisou os efeitos do remédio em 52 mulheres na menopausa e em 150 pacientes histerectomizadas (submetidas à cirurgia de retirada de útero). As participantes tinham em média 50 anos e alguma disfunção sexual. Durante 12 semanas, um grupo tomou a pílula diariamente. Outro recebeu placebo. O resultado surpreendeu. Das voluntárias que recorreram ao Viagra, 57,4% se sentiram mais estimuladas e excitadas e tiveram aumento da lubrificação vaginal. Esse número chegou a 69% entre as mulheres que não sofriam de falta de desejo.

A explicação está na forma como o Viagra age. Como ocorre no homem, a droga facilita o fluxo sanguíneo na região genital. Com uma quantidade maior de sangue circulando na região, também aumenta a lubrificação. A vagina se expande e a mulher fica mais excitada. “Assim, ela atinge mais facilmente o orgasmo”, afirma Laura. Ela ressalta que a droga é menos eficaz quando a disfunção sexual está ligada à falta de desejo, cuja resolução exige saídas mais complexas. Nesse caso, a libido reduzida pode ser resolvida de forma mais abrangente. Se ela está relacionada a causas psicológicas, por exemplo, a terapia é uma saída. Se o problema for uma alteração hormonal, ele é tratado por meio de medicamentos.

Para o gerente médico da Pfizer, João Fittipaldi, os resultados do trabalho são bons, mas ainda são necessários mais estudos. “Não há previsão de quando a droga será recomendada para mulheres”, diz. De qualquer modo, é importante salientar que o Viagra poderá ser eficaz de acordo com o caso de cada paciente. É que a droga tem efeitos colaterais (como dor de cabeça e náusea). Por enquanto, o melhor é aguardar novas pesquisas. Afinal, os cientistas estão se esforçando para encontrar soluções para garantir sexo de boa qualidade também para elas.