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DESASTRE ADIADO
Os republicanos achavam que o primeiro debate presidencial
seria a pá de cal na campanha de Romney. Mas o candidato
se saiu bem, contra um Obama apenas protocolar

Ao subir ao palco da Universidade de Denver para o primeiro dos três debates entre os candidatos à Presidência dos Estados Unidos, o republicano Mitt Romney enfrentava a desconfiança até mesmo de correligionários. Em entrevistas e artigos publicados, lideranças de seu partido já vinham jogando a toalha, considerando o ex-governador de Massachusetts incapaz de derrotar o atual mandatário da nação, Barack Obama, em 6 de novembro. “Está na hora de admitir que a campanha de Romney é incompetente”, escreveu Peggy Noonan, redatora de discursos para Ronald Reagan. O descontentamento seguia a escalada de erros políticos cometidos por Romney. Uma de suas gafes mais recentes ocorreu durante um evento com doadores, onde ele declarou que não é seu trabalho se preocupar com aqueles que não pagam impostos e dependem do governo. A afirmação desastrada foi gravada em vídeo. Assim, nesse ritmo, já se esperava que Romney cometesse mais um escorregão – o derradeiro – frente a frente com Obama na noite da quarta-feira 3. Mas aconteceu o contrário. Durante a uma hora e meia de confronto vista por mais de 50 milhões de americanos, o republicano saiu-se bem ao atacar um Obama evasivo e pouco à vontade em uma discussão voltada à principal preocupação de cerca de 80% dos eleitores: a economia.

Antes mesmo de um levantamento da rede de televisão CNN apontar que 67% dos eleitores consideraram Romney o vencedor do embate, aliados do presidente Obama já reconheciam publicamente o feito do rival. “Romney parecia feliz de estar naquele palco. Obama passou a impressão de que o debate era uma obrigação”, analisou o estrategista democrata James Carville. Já os republicanos tratavam de alardear o que esperam ser um marco da campanha. “Temos uma nova disputa”, disparou o senador Marco Rubio. Com um perfil pouco carismático, Mitt Romney parece, pela primeira vez, ter achado um estilo próximo dos eleitores. Conseguiu passar alguma espontaneidade, deu respostas curtas e diretas e afagou a classe média, hostil a sua imagem de milionário indiferente. “Não vou aumentar os impostos para as famílias de renda média”, declarou. “A classe média está sendo esmagada com aumentos do preço da gasolina e de serviços”, disse. O desempenho foi fruto de um treinamento intensivo de três meses com o experiente parlamentar Rob Portman.

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Parte da performance fraca de Obama ocorreu pela estratégia defensiva adotada. Líder nas pesquisas de intenção de voto e com um cenário atual de conquista de maior número de delegados no colégio eleitoral – onde de fato a eleição é decidida–, o presidente parecia evitar deslizes que colocassem em risco a sua candidatura, ao mesmo tempo, defendia sua gestão de críticas. Optou também por evitar atacar os pontos controversos do rival, como as operações financeiras de Romney em paraísos fiscais. O presidente se referiu apenas ao famoso deslize do candidato republicano na questão dos benefícios sociais, citando o caso de sua própria avó: “Ela viveu sozinha por escolha própria. Foi independente porque a seguridade social lhe permitiu”, declarou Obama. “Declarar programa de benefícios pode remeter a dependência, mas essa gente trabalhou duro”, complementou referindo-se ao vídeo no qual Romney demonstra desprezo com os 47% da população auxiliada pelo governo.

Os especialistas americanos em eleições, no entanto, divergem sobre a real capacidade de o debate mudar o cenário eleitoral. O que a maioria deles parece concordar é que a noite da quarta-feira serviu para dar um novo fôlego de mobilização à então moribunda campanha republicana. Não à toa, o presidente Obama já mudou de tom e partiu para o ataque contra o rival republicano durante um evento na quinta-feira 4. “Se você quer ser presidente, deve a verdade aos americanos. Quando eu subi no palco, encontrei este indivíduo, que parecia ser Mitt Romney. Mas não podia ser Mitt Romney!”, disparou um Obama agora à vontade com a plateia a favor. “O verdadeiro viajou pelo país prometendo US$ 5 bilhões em incentivos fiscais que beneficiam os mais ricos”, ironizou. No que depender dos candidatos, aparecerão muitos novos Romneys e Obamas até as urnas fecharem. 

Fotos: Elise Amendola, Michael Reynolds – AP