Ainda é incerto se o ditador iraquiano Saddam Hussein conseguirá completar 66 anos no próximo 28 de abril ou, se estiver vivo, comemorar atrás das grades. Nascido no vilarejo de al-Awja, perto da cidade de Tikrit (160 quilômetros ao norte de Bagdá), Saddam contou com a canina fidelidade dos homens de sua terra natal até sua estátua despencar em Bagdá. Do clã Bejat, da tribo Albu Nassir, ele não conheceu o pai e foi deixado aos cuidados do tio, um oficial do Exército, cujas idéias talvez tenham moldado a errante personalidade do futuro ditador. Já aos 19 anos, ele se alistou no partido Baath (Ressurreição), nacionalista e autoritário. Saddam não teve dificuldades para lidar com a parte suja do jogo político de um país instável, como era o Iraque pós-Segunda Guerra. Em 1959, apenas dois anos após se filiar ao Baath, Saddam participou da tentativa de assassinato do primeiro-ministro Abdul Karim Qasim. Audaz, ele conseguiu fugir para a Síria e, depois, para o Egito.

Até 1968, Saddam participou clandestinamente dos meandros políticos do Iraque e, nessa época, começou a organizar as milícias do partido. Na metade daquele ano, ajudou a arquitetar o violento golpe que levou o Baath ao poder. O líder do partido, o general Ahmed Hassan al-Bakr, assumiu a Presidência e Saddam foi incumbido da criação e do desenvolvimento do aparato de segurança e inteligência do novo regime, o que mais tarde se tornaria a máquina de terror de seu futuro governo. Além de participar do Conselho do Comando Revolucionário (CCR), Saddam se beneficiava dos laços de parentesco com o presidente Bakr, de quem se tornou verdadeira eminência parda.

Saddam assumiu o poder através de um golpe palaciano em 1979. No ano seguinte, lançou-se numa guerra contra o Irã, onde tinha sido instaurado um regime islâmico antiocidental. Durante oito anos, a guerra devastou os dois países. Com o apoio velado ou explícito do Ocidente, o ditador usou e abusou das armas químicas contra os iranianos, primeiro, e, depois, contra os iraquianos curdos, no final do conflito, em 1988.

O homem do terror foi o mesmo que iniciou um vistoso processo de modernização do Iraque. Em 1972, ele nacionalizou a indústria petrolífera, devolvendo ao Iraque o monopólio de exploração sobre suas reservas. No Iraque de Saddam, mesmo com a brutal repressão aos dissidentes, as mulheres frequentavam universidades. Os indicadores socioeconômicos também cresceram bastante. Entre 1976 e 1986, por exemplo, o total de estudantes primários cresceu 30%. Se comparado aos vizinhos do Oriente Médio, o Iraque era um país razoavelmente próspero.

Mas a obsessão belicosa e o erro de cálculo do ditador iraquiano entraram em conflito com os interesses de Washington quando ele invadiu o Kuait em 1990. Derrotado na guerra do Golfo (1991), Saddam ainda contou com o beneplácito americano para reprimir as revoltas dos xiitas e dos curdos depois da guerra. Nos 12 anos seguintes, o ditador sobreviveu sob embargo da ONU, que colocou por terra todas as conquistas provenientes dos petrodólares e deixou visível apenas a face sanguinária do regime.

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