A economia mundial vai de mal a pior. O alerta é do Fundo Monetário Internacional (FMI), a instituição responsável pela definição da política econômica de dezenas de países nos últimos anos (entre eles, o Brasil). “As perspectivas globais se debilitaram claramente em meio a uma considerável volatilidade dos mercados financeiros”, disse o diretor-geral Horst Köhler na quinta-feira 26, durante a abertura do encontro anual do Fundo e do Banco Mundial, em Washington. O evento, que duraria o fim de semana todo, teria a presença de cerca de 20 mil manifestantes antiglobalização.

Apesar do cenário cinzento, Köhler diz que não há motivo para um pessimismo excessivo. Nem o fato de as projeções do próprio FMI indicarem um crescimento mundial de insuficientes 2,8% este ano e 3,7% em 2003 (o último ano “bom”, o de 2000, terminou com taxa de 4,7%).

Fazendo um corte para a América Latina, a situação deixa de ser ruim para se tornar trágica. A Argentina (uma fiel e dedicada serva do FMI durante mais de uma década) deve ter uma redução de inimagináveis 16% no Produto Interno Bruto (PIB). Uruguai (com queda de 11%) e Venezuela (6%) também puxam a média para baixo. A nave-mãe da economia mundial, os Estados Unidos, devem crescer 2,2% este ano, também longe dos 3,8% de 2000, uma saudosa época em que Osama Bin Laden era apenas um árabe excêntrico e falastrão.

O Brasil encerra o ano, aos olhos do FMI, com um crescimento de
1,5%, equivalente ao do México. O economista-chefe do Fundo, Kenneth Rogoff, deixou pouca margem de dúvida quanto ao futuro brasileiro,
na visão da entidade: o País precisa de mais arrocho nas contas públicas, ou menos endividamento. “É uma tarefa dolorosa”, afirma, com total razão. O aperto nos gastos públicos é considerado por muitos conomistas um fator preponderante para a criação de um ambiente recessivo.

Com tantas notícias ruins para divulgar e discutir durante o final
de semana, não é de estranhar a intensa mobilização de manifestantes antiglobalização ao redor do evento, que seria precedido por uma
reunião dos ministros das Finanças dos setes países mais ricos do
mundo (o G7). Washington, já na quinta-feira, vivia uma clima de expectativa, quase de guerra.

Um perímetro de segurança isolando as sedes do FMI e do Banco
Mundial foi determinado pela polícia. Do outro lado da cidade, no “quartel-general” dos manifestantes, os planos iam de uma bem-humorada passeata de bicicleta, em protesto contra as grande companhias petrolíferas, a esquemas de bloqueio da circulação de carros na cidade, para tornar caótica a circulação dos delegados de mais de 180 países ligados ao FMI. Muitas lojas e museus resolveram fechar as portas durante o evento, e várias empresas planejavam dispensar os funcionários, para evitar tumultos.