O nome do magnata das comunicações, Rupert Murdoch, da News Corporation, está circulando de boca em boca no Jardim Botânico, na zona sul do Rio de Janeiro,
onde fica a sede do império dos Marinho. Murdoch estaria disposto a fechar uma
nova associação com as Organizações Globo na área de tevê por assinatura. É a parceria que a Globo almeja (e precisa) para tentar
se livrar do prejuízo que representa a operação. Para torná-la saudável é preciso dobrar o número de assinantes de 1,5 milhão para três milhões, o que só se faz com enormes investimentos. O empresário australiano naturalizado americano, 71
anos, seria a salvação. O grupo de Murdoch, dono do The Time e do The Sunday Time,
na Inglaterra, entre muitos outros veículos espalhados pelo mundo, entraria com a nova legislação brasileira, que
vai permitir a participação estrangeira na composição acionária das empresas de comunicação. Ele tem um superprojeto para a criação
de uma rede mundial de televisão.

Queda de mercado – Ter a perspectiva de um parceiro desse peso é certamente um bom motivo para que Roberto Marinho e seus principais herdeiros – Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto – tenham um sono mais tranquilo, o que muito provavelmente eles não têm tido. A Rede Globo foi atingida pela queda do mercado publicitário no ano passado, especialmente no segundo semestre. A tevê por assinatura, por sua vez, não apresentou os resultados esperados, e a Globocabo acabou recorrendo a um aporte financeiro de R$ 284 milhões, do BNDES.

A palavra crise não é pronunciada no Jardim Botânico, mas tudo indica que alvoroça os bastidores. Henri Philippe Reichstul acaba de ser afastado da presidência da Globopar, para a qual tinha sido contratado com plenos poderes há apenas sete meses. Roberto Irineu Marinho, 54, o homem forte da Rede Globo, assumiu a presidência executiva da Globopar e do conselho de administração. Reichstul continua integrando o conselho, o que aos olhos do mercado seria aquela tradicional queda para cima, que geralmente dura pouco. Atuando diretamente com Roberto Irineu, o executivo Ronnie Moreira sobe da diretoria financeira para a presidência da Globopar, enquanto o comitê operacional das Organizações Globo permanece sob a coordenação de Octávio Florisbal, homem da confiança dos Marinho que tem o que Reichstul não conseguiu: consenso dentro da empresa. A cúpula das Organizações Globo quer simplificar a estrutura corporativa, o que significa reduzir custos. É uma reformulação vigorosa. Várias funções desempenhadas pela Globopar serão realizadas pela TV Globo Ltda. A Globopar passa a exercer a gestão financeira do grupo. Foi adiada a criação da Globo S.A.

Entre tantas más notícias, a pior seria divulgada oficialmente na terça-feira 24: a diretora-geral da
TV Globo, Marluce Dias da Silva, 52, está licenciada, para tratamento de um câncer de mama. Citada até
por seus desafetos como guerreira, Marluce poderá retornar ao cargo no primeiro semestre de 2003. No comunicado assinado pelos irmãos Marinho, eles dizem que estão “totalmente seguros quanto aos rumos da
TV Globo durante esse período porque o modelo de gestão da tevê será mantido exatamente como vem funcionando e gerando resultados positivos”. Marluce enviou uma carta aos colegas da emissora dizendo
que, “depois da cirurgia a que me submeti no final de agosto, não está mais dando tempo de conciliar tudo (família, trabalho, lazer) como eu sempre fiz. Porque agora tem mais uma demanda: cuidar da saúde, como eu nunca fiz. Faço isso tranquila, porque sei que tudo
vai ficar bem comigo e com a tevê. (…) Durante os intervalos do tratamento vou estar à disposição da
TV Globo. E à disposição de vocês, vou estar sempre. Porque a relação que construímos não é só de trabalho. É de respeito pessoal e muito bem querer. E isso só faz bem, muito
bem à saúde. Beijo com enorme carinho, Marluce”.