Da próxima vez eu fazia tudo diferente/ Espaço Cultural Pivô – Edifício Copan, SP/ até 14/10

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No curta “Documentário”, de 1966, dois jovens duros e entediados perambulam pelo centro de São Paulo, à procura de um filme “perfeito”, que esteja em cartaz nos cinemas da cidade. Quando nada parece saciar o fastio, Rogério Sganzerla, diretor do filme, interrompe a narrativa cinematográfica para discutir as dificuldades de se fazer cinema no Brasil. Os comentários tinham como pano de fundo uma promessa falida. Os jovens cineastas alvejavam um país que recentemente tivera seu processo democrático interrompido por um golpe militar e cujas esperanças se esvaíam em uma São Paulo que sonhava em ser cosmopolita. Ao final, sobre a imagem da dupla andando em direção ao recém-inaugurado edifício Copan, a voz em off de Sganzerla emite a sentença: “Da próxima vez eu fazia tudo diferente.”

Quarenta e seis anos depois, quando o Brasil volta a ser “o país do futuro”, o bordão dito por Sganzerla serve como ponto de partida para a primeira exposição do recém-criado projeto Pivô, que atualmente ocupa 3,5 mil metros quadrados de um antigo hospital odontológico localizado no edifício Copan.

O espaço, que estava abandonado havia mais de 20 anos, foi cedido para o projeto idealizado pela artista Fernanda Brenner, que pretende transformar o local em um centro permanente de artes a partir de parcerias com instituições e galerias. “O Copan é o símbolo da cidade e seu projeto original nunca foi concluído. Nossa ideia é estabelecer um diálogo a partir de encontros com artistas que pensem o Copan em todas as suas camadas simbólicas e arquitetônicas”, explica Marta Ramos-Yzquierdo Esteban, diretora de planejamento e comunicação do projeto Pivô.

Desta primeira mostra, que tem a curadoria de Diego Matos, participam 13 artistas. Há trabalhos contextualizados para o local, como o luminoso “Aurora” (2003), de Carmela Gross (foto), ou trabalhos especialmente realizados, como as intervenções de Nazareno. “Eu quis realizar intervenções e trazer trabalhos que tivessem uma relação com a história do lugar. O Copan é um ícone da arquitetura. Foi inaugurado na mesma época de Brasília, quando o País tinha um projeto de avanço e futuro”, explica o artista, que, na intervenção “Muito bom para se perder”, embutiu nas paredes duas esculturas que representam dom Pedro II ainda criança. Além da curadoria de Diego Matos, as galerias Emma Thomas e Mendes Wood ocupam uma sala com trabalhos de Lucas Simões e Alexandre Brandão, e Jen Denike assina a curadoria de filmes. NG 

Foto: Edouard Fraipont; Nina Gazire (roteiros)