A zona erógena mais visível
e vibrante de Nova York costumava ser a região de Times Square. Depois que o ex-promotor público Rudy Giuliani empalmou o cetro
de imperatore da cidade, sua cruzada pelos bons costumes jogou baldes de água fria no descaramento do lugar. Mas numa cidade cujo símbolo é a maçã do pecado,
o comércio sexual não acaba.
O endereço da bandalheira agora
é a rua 27, do lado leste a partir
da Quinta Avenida. A noite mal começa e as prostitutas, mais
sossegadas sob o olhar displicente do prefeito Mike Bloomberg, fazem bons negócios. E a partir de sábado 28, as coisas da libido ganham caráter institucional, com a abertura do Museu do Sexo (233 Fifth Avenue, com entrada na 27th Street) – o primeiro de uma urbe que já
é um museu das taras a céu aberto.

Mas por que confinar a quatro paredes aquilo que se vê e pratica al fresco? O diretor-executivo do museu, Daniel Gluck, responde: “Faltava
a Nova York uma instituição que catalogasse seu histórico da sexualidade humana. Esta cidade foi pioneira em inúmeros movimentos sexuais,
que estavam relegados ao esquecimento das teses e livros.” Como se pode sentir, a casa tende a fornecer mais excitação intelectual do
que sexual. ISTOÉ teve acesso antecipado a esta alcova acadêmica
e constatou que o acervo – de reconhecido valor histórico – é um tanto, digamos, broxante. A primeira mostra é intitulada Sexo em NYC: como
a cidade de Nova York transformou o sexo na América
. Apesar de incompleta dias antes da abertura das portas, a coletânea de material
é impressionante e instrutiva. Por exemplo: fica-se sabendo que,
ao contrário da crença popular, Gypsy Rose Lee não inventou o strip-tease. Em 1927, quando Louise Hovick, 19 anos, fazia furor sob o nom
de guerre
Gypsy Rose, muitas garotas estavam ficando peladas no
teatro dos quatro irmãos Minskys, na Broadway. A lenda da senhorita Gypsy foi mais por suas formas do que por seu pioneirismo. Só este esclarecimento já vale o ingresso de US$ 10.

“Esta cidade sempre esteve na vanguarda sexual do mundo. Aqui surgiu
o primeiro movimento de sadomasoquismo da América. Também ocorreu
a revolta de Stone Wall no West Village, que foi a pedra fundamental
do movimento gay. Lutas pela emancipação feminina e liberdade sexual surgiram neste território”, diz June Reinisch, a PhD em sexualidade e diretora do famigerado Kinsey Institute, de pesquisa em sexo, gênero
e reprodução. June dará consultas aos visitantes em meio a tours pelas galerias do museu e por excursões por bairros significativos da cidade.

Que ninguém imagine que o baixo estímulo à volúpia, provocado pelo material, seja também desprovido de interesse. Pegue-se, por exemplo, a coleção de fotos feitas nas décadas de 40
até 60 nas chamadas Wednesday night pussy partys, ou Stag partys. Os eventos eram bacanais promovidos em residências com o
intuito de arrecadar fundos para pagar os aluguéis. Os participantes deixavam a roupa
no cabide e mergulhavam na farra. As atividades eram documentadas e as fotos vendidas nos
dias seguintes em bancas de jornal e charutarias de modo semiclandestino. Além disso, material
de divulgação de revistinhas pornográficas, roupas provocantes (inclusive um autêntico maiô de coelhinha da Playboy), itens insólitos de fetiche
e filmes revelando nuances do amor prometem o delírio daqueles cuja curiosidade sexual não conhece limites. Já os que desejam pular da
teoria à prática, é só sair na rua 27 e escolher alguém para repetir
aquilo que foi visto no museu.