Quadro a Quadro: Cem Monas – Nelson Leirner/ Silvia Cintra + Box 4, RJ/ até 20/10

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FILME
Duchamp, cinema e história da arte são revisitados nas 100 Monalisas manipuladas por Leirner

O primeiro a corromper o maior ícone de todos os tempos foi Marcel Duchamp. Em 1919, o artista francês riscou bigode e cavanhaque sobre um cartão-postal da “Monalisa” e intitulou a intervenção “L.H.O.O.Q.” (letras que pronunciadas em francês conformam a frase “Elle a chaud au cul” e que, em tradução coloquial, quer dizer algo do gênero “Ela tem fogo no rabo”). Esta foi apenas uma das provocações do artista que mudou para sempre o estatuto da arte moderna. Depois de Duchamp, outros artistas trabalharam com a popularização da pintura de Da Vinci. Warhol nos EUA, nos anos 1970; e Nelson Leirner, em obra que representou o Brasil na Bienal de Veneza de 1999. Hoje, quase um século depois da crítica de Duchamp, a “Monalisa” tem aproximadamente 23 milhões de manipulações digitais na internet. Além de bigode, ela hoje usa óculos, fita no cabelo, gravata-borboleta, colar de pérolas, cabelo crespo, orelhas de coelha e por aí afora. Como observador arguto da cultura de massa, Leirner não poderia passar incólume por esse fenômeno que caiu na rede. Resolveu, então, “banalizar o banalizado”.

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Fazer uma instalação que remete ao cinema, sem o uso da câmera. Esse foi o desafio autoimposto pelo artista ao realizar a obra “Quadro a Quadro: Cem Monas”, exposta na Silvia Cintra + Box 4, no Rio. Em seu trabalho mais recente, Leirner retorna à figura mais pop e enigmática da história da arte para revolver e reprocessar as diversas fases do próprio trabalho. A começar pelo cinema, que experimentou nos anos 1960 e 70, fazendo uso do super-8. “Pensei muito em super-8 enquanto fazia essas Monas. Eu pegava filminhos que vendiam para festas de aniversário e fazia montagens. Numa cena que a Lady Godiva estava nua no cavalo, eu cortava para o Chaplin, depois passava para o Mickey. Ia grudando com durex. Ficava muito divertido. A “Monalisa” teve para mim o efeito desses filmes, de colagem”, conta Leirner.

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Assim, quadro a quadro, Leirner passeia pelos mercados populares e camelôs onde foi buscar as matérias de tantos trabalhos memoráveis.