Final em preto-e-branco

Acabou na terça-feira 24, a novela de quatro anos do Dossiê Cayman: a Polícia Federal intimou o ex-presidente Fernando Collor, seu irmão Leopoldo, como responsáveis pelo falso dossiê, e o ex-diretor da Polícia Federal Vicente Chelotti, por sonegação de documentos. No papelório, FHC, José Serra e os finados Sérgio Motta e Mário Covas eram acusados de ter conta secreta no Caribe. Uma tropa collorida de cinco advogados adiou o depoimento para após as eleições de 6 de outubro. Um aviso: quando o trio aparecer na sede da PF em Brasília para depor vai ser indiciado pelo delegado Paulo de Tarso Teixeira, que preside o inquérito – o 17º que o ex-presidente coleciona na Polícia Federal. As agruras de Collor começam em Alagoas, onde as pesquisas indicam vitória de seu adversário, o governador Ronaldo Lessa, provavelmente no primeiro turno. Dias atrás, numa reunião com 40 prefeitos em Arapiraca, Collor passou o chapéu para salvar o caixa furado da campanha: pediu R$ 50 mil de cada um. Inseguro quanto ao futuro, Collor negocia com a Embaixada americana um “green card” para residência permanente em Miami. Fez o pedido para ele, Rosane e seu filho Arnon, candidato a deputado federal que não consegue encher o chapéu de votos. O “green card” pode significar o cartão vermelho para Collor se ausentar do País.

Gente grande

Independente do resultado, Garotinho sai da eleição com pose de adolescente. Sem grandes alianças partidárias, gastando pouco, com o menor tempo de TV, sem marqueteiros ou artistas famosos, esvaziado por rumores de renúncia, Garotinho cresceu na reta final e hoje é o mais assediado, se não chegar ao segundo turno. O PSB pode fazer cinco governadores, dois já no primeiro turno: Rosinha Garotinho, no Rio, e Paulo Hartung, no Espírito Santo. O partido ainda disputa o segundo turno como favorito em Alagoas, Pará e Rio Grande do Norte. Na Câmara pode pular dos atuais 17 para 25 deputados. Além disso, a evangélica fidelidade de seus votos torna Garotinho um santo a ser cultuado.

Pelo telefone

Fernando Henrique é amigo, muy amigo de Cristovam Buarque, do PT. A pedido do atual governador do DF, Joaquim Roriz (PMDB), FHC tentou convencer seu ex-líder José Roberto Arruda (PFL) a disputar uma vaga para o Senado e abandonar a disputa pela Câmara. O objetivo era derrotar o candidato do PT ao Senado e líder nas pesquisas, o ex-governador Cristovam Buarque. O telefonema inútil de FHC foi feito antes do prazo final para a troca de cargos. Buarque é amigo da primeira-dama, Ruth Cardoso, e de José Serra. Há quatro anos, concorrendo contra Roriz, Cristovam teve em seu palanque o ministro Malan e o próprio Serra. Com o apoio de governistas, perdeu. Agora, contra eles, talvez ganhe.

Nitroglicerina

Uma bomba está prestes a explodir no QG da Frente Trabalhista
em São Paulo. Um dos atingidos será o vice-presidente nacional
do PTB, deputado Campos Machado, candidato à reeleição para a Assembléia Legislativa. No meio da papelada há diversos documentos capazes de comprovar que empresas dele e de seus familiares conseguem obter polpudas regalias do governo paulista, tais
como contratos milionários sem licitação ou em caráter de urgência
com duração superior a cinco anos.

Rápidas

Os caciques dos grandes bancos federais estão recebendo um pacote embrulhado em vermelho. Dentro, uma fita com a história do PT e um broche com a estrela. Banhada em ouro.

Tasso Jereissati, que contava eleger o tucano Lúcio Alcântara no primeiro turno do Ceará, confidenciou a um amigo, desanimado: “Aqui não tem jeito, vai haver segundo turno e será contra o PT.”

O presidente eleito deve lutar no Congresso para legalizar grandes centrais, como a CUT e a Força Sindical. Idéia de Lula? Não, do presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Francisco Fausto.

No colar de empresas que financiaram a campanha de José Serra a senador, em 1994, brilha uma jóia rara: a Incal Incorporações. Aquela mesma, do notório prédio do TRT de São Paulo.