No início, foram algumas aparições tímidas, solitárias ou em shows de amigos. Assim, só para demonstrar e compartilhar a alegria de ter escapado de um terrível acidente de ultraleve em 4 de fevereiro de 2001. Mas também era uma vontade incontrolável de voltar a se relacionar com a música, de exorcizar os maus momentos. Agora, Herbert Vianna definitivamente fez sua reestréia no show business como queria, durante a gravação de um especial para o Fantástico, da Rede Globo, que vai ao ar neste domingo 29. Ele, Bi Ribeiro e João Barone, os integrantes do grupo Os Paralamas do Sucesso, se apresentaram para uma platéia seleta, cantando antigos sucessos e canções do novo e aguardado álbum, Longo caminho. “É uma bênção renascer e voltar a fazer um show diante de pessoas tão entusiasmadas”, disse ele para o público cuja maioria contava associados do fã-clube
da banda. “Luca, Hope, Phoebe, I love so much”, gritou para os filhos, que assistiam a ele, ao lado da tia Sarah – irmã de Lucy, morta
no acidente – e seu marido, Jeremy, que vieram da Inglaterra especialmente para prestigiar o músico.

O novo disco de 11 faixas, dez das quais assinadas exclusivamente por Herbert Vianna, é uma prova da vitalidade dos Paralamas. Consta que todas as canções foram compostas antes do ocorrido. Portanto, as letras de profundos versos existenciais e de progressão de qualidade em relação aos trabalhos anteriores não são fruto de uma reflexão de quem viu a cara da morte e ela estava viva. “Eu vivo sem saber/até quando ainda estou vivo/sem saber o calibre do perigo/eu não sei/de onde vem o tiro…/no caos ninguém é cidadão…/não há estado, não há mais nação”, canta ele em O calibre, com um instrumental de peso, tendo guitarra, baixo e bateria na trincheira do rock de letra contundente. O CD foi gravado “ao vivo” num estúdio carioca e, ainda assim, Herbert mostra que não perdeu a habilidade na guitarra, com a qual ele manteve conhecimento paulatino até adquirir intimidade cúmplice.

Na faixa-título, João Fera faz uma divertida participação nos teclados, que ameniza a tristeza da letra em descompasso com a melodia, uma balada pop com o toque de criatividade permanente de João Barone, o melhor baterista. Soldado da paz é um rock
com jeitão de Legião Urbana. Não à toa,
conta com o guitarrista Dado Villa-Lobos, ex-integrante da banda de Renato Russo. Aqui, mais uma vez, Barone imprime sua marca
numa bateria nunca óbvia e sempre surpreendente, como nas ligeiras “metralhadas” que a letra pede. “O soldado da paz/não pode ser derrotado/ainda que a guerra pareça perdida”, brada a letra. Se
depender da garra de Herbert e da solidariedade e pique musical
de Bi e Barone, a batalha do vocalista nunca será em vão