É no Mercado Ver-o-Peso, uma espécie de feira livre em Belém do Pará, que o paraense encontra essências de plantas e ervas para serem usadas na preparação de seus banhos de cheiro. No Nordeste, também é comum, logo após tomar uma chuveirada, perfumar o corpo todo, numa tentativa de driblar o inconveniente das altas temperaturas. Nos demais Estados, principalmente Sudeste e Sul, dependendo da classe social, as mulheres têm de três a sete frascos de perfume – enquanto os homens possuem até quatro. E é comum, do Oiapoque ao Chuí, a mãe perfumar seu filho desde os primeiros dias de vida. Por hábitos tipicamente brasileiros como esses é que foram comercializados 24,7 milhões de toneladas de perfume no País só em 2006 – o que alçou o Brasil à condição de terceiro mercado mundial, perdendo apenas para os Estados Unidos e o Japão.

Mas por que o brasileiro valoriza tanto estar cheiroso? “O perfume tem um poder de comunicação muito grande. Ele é capaz de dizer coisas sobre a personalidade de quem usa e suas intenções”, diz Helena Garcia de Gracia, gerente de perfumaria da Avon. As fragrâncias de frascos vermelhos – as embalagens, nesse caso, costumam refletir o conceito do produto – despertam o desejo no sexo oposto. “É comum que perfumes dessa categoria tragam na fórmula notas de madeira e sintéticas de animais”, diz Helena. Aí destaca-se também o âmbar gris – secreção biliar de baleias que, quando exposta ao sol, produz um perfume adocicado –, cujo cheiro é o que mais se assemelha ao odor do homem e da mulher naturalmente expelido na hora da conquista. O âmbar gris pode ser encontrado na composição do Midnight, masculino e feminino, da Avon, por exemplo. Pesquisa da Natura mostra que, para o homem, a fragrância é um elemento de sedução mais importante do que para a mulher. Os perfumes de frascos amarelos e esverdeados trazem os aromas cítricos, que proporcionam sensações de prazer e bem-estar. E as embalagens azuis e violetas guardam os cheiros mais versáteis, de madeiras claras e flores suaves, para agradar de dia e de noite.

No Brasil, as preferências por cheiros fogem do padrão europeu e americano. Os homens gostam das fragrâncias de madeira e de especiarias e as mulheres, geralmente, preferem os perfumes florais frescos. Por isso, muitas vezes optam por fragrâncias masculinas, que reúnem notas de madeira, uma mania tipicamente brasileira. Os franceses gostam de perfumes mais encorpados. Aí entram os florais, bem femininos, e aqueles que possuem toques orientais, mais adocicados. Perfumes com notas gastronômicas, que lembram o chocolate e a baunilha, como o famoso Angel, nasceram nos Estados Unidos e agora são tendência mundial. O Boticário lançou o Egeo Dolci, cuja embalagem é uma lata de bala, e ele esgotou nas prateleiras. Uma nova edição está programada para chegar às lojas em maio.

Por causa de nossa extensão territorial, os consumidores de cada região têm preferências diferentes, segundo pesquisa de O Boticário. A mulher do Norte e do Nordeste é apaixonada por lavanda, uma das mais antigas essências, que hoje está presente até em sabão em pó e produtos de limpeza. No Centro-Oeste, destacase o musk para as mulheres e o floral amadeirado e o chipre para os homens. No Sul e no Sudeste, reinam o floral amadeirado. Os maiores mercados são o Sudeste e o Nordeste.

FTOTOS: SHUTTERSSTOCK E JOHN TURNER/CORBIS

UNISSEX Ao contrário das européias,
as brasileiras gostam de usar perfumes masculinos

Preferências à parte, na hora de comprar é importante estar atento ao comportamento do produto na pele. O ideal é ir à loja provar o perfume e observar a reação dele nas 24 horas seguintes. Só assim é possível verificar o tempo de fixação. Perfumes frutados e cítricos, por exemplo, são mais voláteis. Além disso, pode-se avaliar o grau de alteração no odor. “Os perfumes não têm o mesmo cheiro em todas as pessoas”, explica a perfumista da Natura Veronica Kato. Segundo ela, cada pessoa tem um odor próprio que, ao entrar em contato com o perfume, cria um terceiro cheiro.

O mercado de fragrâncias está em expansão. Há uma década, eram lançados 80 rótulos por ano no mundo. Atualmente, são 400. O Brasil não ficou para trás. A trajetória da Natura na perfumaria representa essa evolução. Até há cinco anos, a empresa se preocupava em trazer o que era tendência do Exterior ao Brasil. Em 2004, mudou o foco e resolveu mergulhar na perfumaria fina nacional. Lançou o Perfume do Brasil, com dois ativos inéditos, a priprioca e o breu branco, extraídos da Amazônia. A novidade está na linha Amor América, que traz dois novos ativos, a paramela, da Patagônia, e o palo santo, dos Andes. Tanta dedicação tem um porquê. As marcas querem fazer parte da nossa memória olfativa. Afinal, não há melhor propaganda para uma empresa do que um cliente cruzar na rua com um desconhecido e seu perfume imediatamente lhe transportar para um lugar tranqüilo, acolhedor e cheio de memórias boas. É aí que mora a mágica do perfume.