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“…Estamos nos construindo na luta para florescer amanhã como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma. Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si mais humanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela e luminosa província da Terra”
Darcy Ribeiro (1922-1997), no livro O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil

O país do mar, sol, Carnaval e futebol é admirado aqui e lá fora pelos seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados de corpo belíssimo. Mas quem o conhece de perto sai apaixonado mesmo é pela alma tropical e mestiça do Brasil: o seu povo, sofrido, mas sem dúvida generoso. A maioria dos turistas estrangeiros vem para cá atraídos pelas praias em primeiro lugar (31%), pelo clima tropical em segundo (20%) e pela beleza natural do País em terceiro (16%). Apenas 8% citaram o povo brasileiro como o motivo da escolha do Brasil para passar suas férias. Mas essa equação se inverte na saída. Ao deixarem o País, mais da metade dos estrangeiros constata diante da pergunta “O que tem de mais positivo no Brasil?”: seu povo (52%). A alma do nosso país passa a ser vista como o nosso grande patrimônio e o corpo surge em segundo lugar: as praias e o mar (28%); beleza natural do País (22%); e o sol e o clima tropical (19%). É o que revela pesquisa feita com 1.203 turistas nos aeroportos internacionais do Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Salvador, Recife, Natal, Fortaleza e Manaus, pelo Instituto Vox Populi em setembro e outubro, encomendada pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), ligado ao Ministério do Turismo.

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Foi justamente por isso que a família do economista sueco Hans Lindquist, 44 anos, acabou vindo para cá. Ele se programou para passar o fim de ano no litoral da Ásia. Mas o tsunami mudou radicalmente os planos. No dia 26 de dezembro procuraram o agente de viagem e trocaram a rota para uma temporada de 15 dias no Rio de Janeiro. A idéia era aproveitar as praias e a amena temperatura tropical. Hans, sua mulher, a enfermeira Regina, 46 anos, e o filho Robin, 15, conheciam pouco do Brasil e não tinham grandes expectativas quando desembarcaram no Aeroporto Tom Jobim. A primeira surpresa foi o deslumbramento com os fogos
no réveillon de Copacabana. Os dois viram o espetáculo do Posto 6, de onde a nuvem de fumaça pouco incomodou os espectadores. “Foi lindo!”, suspira Regina.
O maior encantamento, porém, chegou aos poucos, quando começaram a des-
cobrir o temperamento acolhedor do carioca: “É uma gente muito boa e simpática”, constatou Hans, enquanto gastava alguns euros no shopping Riosul, em Bota-
fogo, na quarta-feira 12. Para quem não sabia nada de música brasileira, ouvir o rádio foi outra agradável surpresa. “Vamos sair daqui levando muitos CDs para a Suécia”, avisou Hans.

Casado com uma brasileira, o professor alemão Louis Marie Willen Frans Driessen Van Dick, 63 anos, já fez algumas viagens ao País, sempre como turista, em curtas temporadas. Veio passar oito dias no Rio de Janeiro e duas semanas em Salvador. Extrovertido, trajando uma colorida bermuda e uma camisa que deixavam à mostra suas tatuagens, com piercings no nariz e orelhas, Van Dick conta que o que mais admira no Brasil são os brasileiros, que ele descreve como “crianças crescidas”. “São pessoas puras, muito amistosas e de coração aberto. Não temos esse tipo de coisa na Europa”, constata. É coisa nossa.

Apesar da pobreza e da violência que faz dos estrangeiros vítimas constantes, os “gringos” saem encantados com os brasileiros, que para eles são “amigáveis, alegres, felizes, simpáticos, amáveis, cordiais”. Além disso, se sentem bem acolhidos pelo povo, que os recebe de “forma afável e prestativa”. Um dos maiores antropólogos do País, Roberto Damatta brinca ao saber da pesquisa: “Só nós é que não vemos isso.” Ele considera “gratificante” o resultado do estudo “principalmente para aqueles que como eu sempre escrevi a favor do Brasil”. Trata-se de uma visão insuspeita, segundo Damatta. “Isso mostra que o custo Brasil não é só negativo.” Segundo ele, os estrangeiros sentem no País uma abertura para o novo e sentem que o brasileiro tem uma grande capacidade de gerenciar diferenças.

Mas o levantamento traz também sinais amarelos para a indústria do Turismo: a infra-estrutura e os serviços de qualidade estão mal na foto. São citados como ponto positivo por apenas 7%. Em vários momentos, a pesquisa demonstra que a melhor lembrança que os turistas levam para casa é a do povo brasileiro. Diante de uma lista de atributos do País e da pergunta “O que é o melhor do Brasil?”, o turista de novo coloca o brasileiro no topo (28%), seguido de praias (13%), natureza (8%), sol/clima tropical (8%) e comida/bebida (6%). Os estrangeiros vêem nos brasileiros uma grande tolerância com outras religiões e costumes, ao contrário de muitos povos no conturbado mundo de hoje: 94% concordaram com a afirmação “O povo brasileiro é respeitoso e aberto aos estrangeiros.” Talvez por isso sete em cada
dez turistas não acreditam que o Brasil será alvo de ameaças externas, como guerras e ataques terroristas. Essa facilidade do brasileiro em abraçar povos diferentes pode encontrar explicações no “cunhadismo” – que, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro em seu livro O povo brasileiro, é a instituição social
que possibilitou a formação do nosso povo. Tratava-se de um antigo hábito dos índios de incorporar estranhos à aldeia.

Outro lado – As mazelas brasileiras são também percebidas pelo olhar estrangeiro: o pior do Brasil é a pobreza (32%), seguida da violência (19%). Diante da pergunta “O que lembra o Brasil?”, a resposta espontânea dos entrevistados é: praia (38%), povo (23%), música e Carnaval (20%), sol e clima tropical (19%), gastronomia empatada com futebol (14%) e em sexto lugar beleza natural, Rio de Janeiro e mulheres (12%). Para um país violento como o nosso é surpreendente que o item pobreza, desordem, criminalidade e violência (6%) desponte somente em 11º lugar. Os estrangeiros também levaram para suas casas visões positivas sobre a economia brasileira: é mais positiva (46%) do que negativa (29%). Para 21% a economia se fortalece a cada dia e para 15% ela é equilibrada. O cenário não poderia ser mais favorável para o turismo brasileiro – ainda mais considerando que o País ainda é brindado com a inexistência de desastres naturais – terremotos, maremotos –, como o que arrasou vários paraísos tropicais da Ásia no fim do ano.

 

 

 

 


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