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CARRINHO
A chef Vivi Araujo usa aplicativo que
calcula a quantidade certa de ingredientes

Todos os anos, 30% das frutas (5,3 milhões de toneladas) e 35% das hortaliças (5,6 milhões de toneladas) produzidas no País acabam no lixo, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Nossas geladeiras colaboram muito com esses números. É muito comum comprar muito mais do que se pode consumir. Para atenuar isso, programadores criam sites e aplicativos para celular com serviços para acabar com a indústria do desperdício. Há programas que calculam a quantidade de ingredientes de acordo com o número de pessoas a serem servidas, que fazem listas de alimentos que estão próximos do vencimento e sugerem pratos com base na lista de compras para aproveitar tudo até o fim.

Entre as pessoas que estão vendo diminuir a quantidade de lixo orgânico em casa está a chef Vivi Araujo, consultora do Crudo Casa Hotel em Salesópolis (SP) e autora do blog e programa “Pé na Cozinha”. Ela já usou o aplicativo Love Food, Hate Waste (Ame a Comida, Deteste o Desperdício). “Podemos calcular as quantidades com bastante precisão; facilita as compras e dá muitas ideias de receitas com itens que você já tem em casa”, diz. A desvantagem é que, ao selecionar um alimento para calcular a quantidade, não dá para especificar se ele será acompanhamento ou prato principal, e ainda não existem muitos itens em algumas categorias, como a de carnes.

Enquanto outros aplicativos são comuns no Exterior (confira as fotos nesta página), o Brasil está num estágio anterior. Aqui há sites que ajudam a organizar as compras e a comparar preços, como o Boa Lista e o Meu Carrinho. A tendência é que, com a crescente preocupação com a sustentabilidade, surjam novas ferramentas com foco no combate ao desperdício. O site Igluu, por exemplo, monta cardápios semanais de acordo com as preferências do usuário, de forma a aproveitar os ingredientes em mais de uma receita. Na semana que vem, os desenvolvedores lançarão uma ferramenta em que o cliente monta uma lista de itens que já tem em casa e recebe receitas que usam aqueles alimentos.

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O mercado Apanã, em São Paulo, que oferece produtos orgânicos e sustentáveis, planeja lançar no ano que vem um site de vendas com aplicativo para celular que avisa quando um produto estiver próximo do vencimento. Se a embalagem estiver intacta e ainda dentro de uma margem razoável do prazo de validade, o cliente poderá trocar o produto por outro igual, mais novo. "As pessoas estão procurando alimentos mais frescos, queremos ajudá-las a comprar melhor, sem desperdícios", diz Miguel Carvalho, sócio da Unibio, empresa por trás do mercado.

Para Aline Moller, proprietária da empresa Fit Gourmet, que oferece cursos de culinária e monta cardápios sob medida, os maiores erros de quem compra em excesso são escolher os produtos por impulso e deixar-se levar por novidades, lançamentos e embalagens bonitas. Há também os que se rendem aos alimentos da moda, como a quinua, e os compram sem saber como prepará-los. "Muitas vezes acaba estragando antes de a pessoa usar", diz Aline. Nesse caso, o ideal é buscar informações e receitas antes de investir em um ingrediente desconhecido. "Mesmo quem tem cozinheira trabalhando em casa muitas vezes não se planeja e acaba improvisando".

Segundo Ana Wilheim, diretora executiva do Instituto Akatu pelo consumo consciente, um outro desafio é a indústria adequar o tamanho e design das embalagens a um novo mercado consumidor. Cada vez mais pessoas moram sozinhas nas grandes cidades e poderiam se beneficiar de produtos vendidos em porções menores. "Além disso, não temos o hábito de fazer as compras visando o cardápio da semana e falta conhecimento para aproveitarmos todas as partes do alimento, como a casca do abacaxi, por exemplo", diz. Seguindo essas dicas, com o que vai economizar ao parar de jogar alimento fora o consumidor vai até poder trocar de celular.

Foto: Rogério Cassimiro