A reportagem anterior prova com todas as letras: obesidade traz sempre prejuízos. Para 1,5 milhão de brasileiros, quase 1% da população, esses prejuízos colocam em risco a vida. São os obesos mórbidos. O índice mais usado para calcular a obesidade é o de massa corporal (IMC). A partir de 30, significa obesidade. Acima de 40, ela é mórbida. As chances de um desses supergordos sofrer ou mesmo morrer de hipertensão, diabete, ataque cardíaco, derrame ou doenças pulmonares são multiplicadas. Por isso, eles têm recorrido às cirurgias de redução do estômago. Nenhum cirurgião responsável deve indicar cirurgia àquele vaidoso disposto a perder alguns quilinhos sem fechar a boca ou fazer exercícios.

“Pacientes com IMC acima de 40 ou de 35, em casos de doenças graves associadas, podem ser operados. Fora disso, o correto é buscar tratamento clínico”, aconselha o cirurgião Arthur Garrido Jr., um dos organizadores do 7º Congresso da Federação Internacional de Cirurgia da Obesidade, realizado em São Paulo. Todos os anos, 80 mil americanos são submetidos a essas cirurgias. No Brasil, foram feitas três mil em 2001. O custo varia entre R$ 15 mil e R$ 25 mil. Mas 16 hospitais de oito Estados fazem a cirurgia pelo SUS desde 2000. No Hospital das Clínicas de São Paulo, há uma fila de espera de três mil pessoas. Apenas 5% das operações são pagas pelo paciente.

Muitos conseguiram mudar de vida com a cirurgia, entre eles o executivo de recursos humanos Ataíde Chabariberi, 40 anos. “Tinha 177 quilos e 600 gramas para uma altura de 1,71 m quando fui operado, há um ano. IMC de 60,74”, conta ele. Após a gastroplastia em Y, Chabariberi deixou 100 quilos pelo caminho. Está feliz com seus “quase oitentinha”. “O índice de morte por problemas associados às operações é de 0,6%”, admite Garrido Jr. “Mas a taxa de mortalidade entre os obesos mórbidos de 35 a 49 anos é 12 vezes maior do que a dos não obesos na mesma faixa de idade. Há sete anos, 2,7% dos obesos mórbidos da fila de espera do HC/SP morreram em um ano, índice quatro vezes e meia maior que o de mortes em consequência de operações.” Conclusão: cirurgia de obesidade traz risco e só se justifica quando o risco de o paciente morrer sem ela for ainda maior.

Colaborou Douglas Tavolaro (SP)