Relembre, em vídeo, o assassinato da família Clutter :

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TRAGÉDIA
Em 1959, Perry Smith (acima, à direita.) e Eugene Hickcock
(centro, acima) assassinaram brutalmente quatro membros
da família Clutter: O casal Herbert e Bonnie, e os filhos Nancy e Kenyon

Poucos crimes na história americana chocaram tanto a população quanto o assassinato da família Clutter. Em uma pacata noite de 15 de novembro de 1959, na pequena cidade de Holcomb, no Kansas – onde então residiam apenas 270 habitantes – quatro tiros de espingarda calibre 12 quebraram o silêncio da área rural. Na casa dos Clutter, onde estavam o casal Herbert e Bonnie e os filhos adolescentes Nancy e Kenyon, os ladrões Eugene Hickcock e Perry Smith vasculhavam cômodos em busca de alguns milhares de dólares. Encontraram apenas US$ 50 e decidiram matar os quatro membros da família para não deixar testemunhas. O caso ganhou projeção mundial sob o relato do jornalista e escritor Truman Capote, que tirou daí seu maior sucesso: o livro “A Sangue-Frio”, publicado em 1965 e um dos precursores do jornalismo literário. Agora, mais de 50 anos após a morte dos Clutter, itens inéditos da investigação do caso serão leiloados e estão motivando uma polêmica entre o Estado do Kansas, membros da família Clutter e o site de leilões Vintage Memorabilia.

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As peças disponíveis para compra em um leilão virtual que se encerra no próximo dia 30 pertenceram ao falecido investigador policial Harold Nye, que liderou as investigações do caso Clutter. Durante os anos 1960, Nye guardou em sua casa documentos relacionados ao crime: anotações próprias, arquivos do Bureau de Investigação do Kansas, cartas trocadas entre ele e Capote, além da primeira edição de “A Sangue-Frio”, assinada pelo escritor e pelo elenco do primeiro filme sobre o livro, cujo lance inicial está em US$ 5 mil. Nenhum desses itens havia vindo a público até hoje. O artigo que está causando mais polêmica, no entanto, são as fotos da cena do crime. Imagens de Herb, Bonnie, Nancy e Kenyon assassinados constavam no lote colocado originalmente a leilão. Porém, após um pedido formal do Bureau de Investigação do Kansas, o site Vintage Memorabilia decidiu devolver as fotos para a polícia. “Inicialmente achávamos importante manter todos os arquivos de Harold Nye juntos e proibir por contrato a divulgação das fotos. Contudo, concluímos que seria impossível garantir isso a longo prazo, então decidimos devolver as imagens”, disse Gary McAvoy, dono do site de leilões.

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ACHADOS
Peças à venda incluem a primeira edição de “A Sangue-Frio”
assinada por Capote (no detalhe), além de cartas trocadas entre o escritor
e o investigador policial Harold Nye e documentos da investigação

Por conta da possível divulgação das fotos dos Clutter, as duas filhas do casal que sobreviveram à tragédia, pois já não moravam mais com os pais na época do crime, quebraram cinquenta anos de silêncio sobre o caso. “Eu não posso descrever a dor e a angústia que a família sentiria caso esses itens se tornassem públicos”, disse Michael Clutter, advogado e primo das irmãs Beverly e Eveanna, que hoje estão na casa dos 70 anos. O material foi colocado a leilão por Ron Nye, filho do investigador Harold Nye, que faleceu em 2003. Naquele mesmo ano, Ron encontrou os arquivos do pai por acaso, ao lado de uma lata de lixo do lado de fora da casa de sua mãe. A viúva de Harold havia jogado os objetos fora por acreditar que eles não tinham valor algum. Entre os achados colocados agora à venda estão cartas de Capote reclamando sobre a demora no julgamento e execução dos assassinos Hickock e Smith, que confessaram os crimes e permaneceram na cadeia por cinco anos, até serem enforcados no dia 14 de abril de 1965.

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Publicado originalmente em forma de reportagem dividida em quatro capítulos na revista “The New Yorker”, “A Sangue-Frio” é até hoje um dos livros de não-ficção mais consagrados entre crítica e público no mundo todo. A obra vendeu milhões de cópias em 30 línguas e inspirou quatro filmes.
 

Fotos: Bettmann/CORBIS; reprodução