Com 150 mil carros parados nos pátios, a indústria automobilística está correndo atrás de compradores. É um encalhe de peso, correspondente a 10% do total das vendas previstas para este ano. Na ponta das concessionárias a corrida não é menor: elas querem varrer da memória os meses de junho e julho, os piores em vendas dos últimos anos, quando a ociosidade nas fábricas ficou próxima dos 40%.

Os grandes feirões, promovidos em conjunto com as montadoras, estão quebrando o galho. Mas não resolvem. Cinco dias depois de encerrar um período de férias de uma semana, os 800 funcionários da fábrica da Renault no Paraná, onde a montadora francesa produz carros de passeio, fizeram o caminho de volta para casa para mais uma semana de “folga”. A General Motors, por sua vez, só decidiu retomar o segundo turno, suspenso indefinidamente em agosto, em razão da decisão do governo de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis. A retomada é prevista para 16 de setembro.

O fraco desempenho das vendas no primeiro semestre do ano levou a Volkswagem a fazer o que nenhuma empresa gosta: rever para baixo a sua previsão para o ano. Paulo Kakinoff, executivo de marketing da montadora, fala numa queda de 5% a 7% em relação a 2001. O consolo é a perspectiva de crescimento das exportações e o aumento da participação dos carros a álcool no mercado até o final do ano.

Em junho, de acordo com os números da Fenabrave, a associação que reúne os revendedores de automóveis, foram vendidos pouco mais de 82 mil carros, 12% a menos que em maio. Comparado com junho do ano passado, a retração superou os 20% e o estoque na indústria bateu nos 170 mil veículos. “Nem ficar pelado na frente da concessionária atraía compradores”, exagera Vittorio Rossi Júnior, diretor comercial da Primo Rossi, tradicional concessionária Volkswagem de São Paulo. Hoje, segundo ele, as revendas vivem um momento de trégua, também proporcionada pela redução do IPI.

A Anfavea, associação que reúne as montadoras, também está revendo para baixo as previsões para este ano. De acordo com a entidade, a produção de veículos não deve superar 1,8 milhão de unidades, contra uma previsão de 1,9 milhão feita no início do ano. Até julho, a queda na produção já era de 9%. “Toda essa turbulência econômica e política deixa o consumidor inseguro”, diz Ademar Cantero, diretor de relações institucionais da entidade.

Contra as turbulências, o governo tenta reativar o consumo e incentivar a indústria a continuar produzindo. Depois de baixar o IPI para os carros novos, a próxima medida, ainda em estudo, visa as famílias com renda inferior a R$ 2 mil. O projeto, batizado de “Poupança do Carro Próprio”, nasceu dentro do Sindipeças, sindicato das empresas de autopeças, e foi levado ao presidente Fernando Henrique Cardoso. “Ele adorou”, disse Paulo Butori, líder da entidade. O carro, no valor máximo de R$ 12 mil, seria comprado através de uma espécie de consórcio em 72 meses. A promessa é de que na metade desse prazo o comprador leve o carro para casa. O saldo seria financiado pelos bancos das montadoras.