Na terça-feira 27, Ronaldinho foi mais uma vez alvo de uma indústria que não sente os efeitos da crise financeira, da alta do dólar e da quebradeira das grandes corporações. O mercado da fofoca não pára de crescer. Sites, como o que publicou a notícia do suposto caso da esposa do craque, Milene, com o seu colega de clube, o holandês Clarence Seedorf, pipocam a toda hora na internet.

Não faltam revistas que se dedicam a tratar da vida alheia. No Brasil, estima-se que as cinco maiores ultrapassem a tiragem de um milhão de exemplares por semana. Hoje em dia, é quase impossível passar uma tarde em frente à tevê sem que se saiba quem está ficando com quem ou descobrir o último barraco armado por aquela celebridade. Até os reality shows transformaram-se em inesgotáveis fontes de babados e fuxicos. Mas o que faz as pessoas se interessarem tanto pelo que os famosos estão fazendo?

Para alguns especialistas, este é um meio de trazer a distante e glamourosa vida das celebridades para o cotidiano dos mortais. E até de atingi-las. “Há um componente de ressentimento na boataria que cerca essas pessoas. Elas são consideradas ricas, felizes e bonitas.

Tudo é positivo e em grande proporção. É preciso injetar alguma infelicidade nisso para que o mundo não seja tão injusto”, avalia o filósofo Henrique Antoun, professor da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É uma espécie de vingança. Para ele, quanto mais amada a pessoa, mais difamada. E cita os exemplos Xuxa e Ronaldinho, que têm imagem positiva, de bonzinhos e simpáticos. “O Romário, por exemplo, que é bad boy, não é tão atingido pela fofoca.”

O psicoterapeuta José Ângelo Gaiarsa, autor do livro Tratado geral sobre a fofoca (Summus Editorial), acredita que a fofoca é um meio de controle social. E, na maioria das vezes, provocada pela inveja. “A quantidade de fofoca que existe no mundo é diretamente proporcional à quantidade de desejos não realizados. As pessoas normais se espelham nos famosos, querem ser como eles. Como não conseguem, inventam fatos”, explica. E acrescenta que, de uns tempos para cá, a situação piorou, por culpa das próprias celebridades. “Hoje em dia, as pessoas gostam de ser ‘fofocadas’. Quanto mais aparecem, mais se sentem importantes. Isso apenas agravou a situação”.

Mas mesmo quem está ultrapassando os seus 15 minutos de fama, às vezes se sente incomodado com a superexposição. Que o diga Deborah Secco. Depois de posar para a revista Playboy e ser flagrada com o seio de fora em uma coletiva de imprensa, ela foi acusada de ser o pivô da separação da colega Flávia Alessandra e do diretor Marcos Paulo, seus parceiros na nova novela das sete, O beijo do vampiro, da Rede Globo. Mal houve tempo para Deborah negar o caso e outra fofoca surgiu. Júlia Lemmertz, mulher do ator Alexandre Borges, teria ficado enciumada ao ver uma cena de amor da atriz com seu marido.

Cansada de tanto diz-que-diz, Deborah resolveu radicalizar: não fala mais com a imprensa e apareceu vestida da cabeça aos pés no baile de lançamento de O beijo do vampiro, no hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, que aconteceu no domingo 25. Na Itália, o craque Ronaldinho também decidiu se calar. Quem saiu em sua defesa foi a sogra. A ISTOÉ, dona Lúcia, mãe de Milene, afirmou que o casal continua unido. “Minha filha disse que ela e Ronaldo estão rindo muito disso tudo. É mais uma história para eles se divertirem.” Por via das dúvidas, os advogados do jogador estão de prontidão. Eles ameaçam processar o site tgcom.it, responsável pela divulgação do suposto drible da loira das embaixadas.

Mas não há processo que consiga calar o incontrolável desejo de bisbilhotar a vida dos outros. A fofoca existe desde que o mundo é mundo. O historiador Jaime Pinsky, da Universidade de São Paulo, conta que existem referências sobre o assunto na Bíblia, em escritos egípcios e nas literaturas grega e romana. “O próprio Sófocles dizia que não há nada mais interessante do que falar sobre o ser humano. Hoje em dia, os alvos dos fofoqueiros são pessoas do meio artístico. Na antiguidade, eram os grandes governantes de Roma e os heróis gregos”, lembrou. Para alívio das Candinhas e Ofélias.