UANDERSON FERNANDES/AG. O DIA / PAULO ALVADIA/AG. O DIA

EMPATADOS Crivella (à esq.) tem 20% e Jandira, 18%

Há, aparentemente, apenas uma coincidência entre os postulantes à Prefeitura do Rio de Janeiro, Jandira Feghali (PCdoB) e Marcelo Crivella (PRB): ambos são músicos. Jandira foi baterista da banda Los Panchos e Crivella gravou mais de dez CDs religiosos. No mais, eles são como água e vinho. Popularmente, Jandira é “a comunista” e Crivella é “o bispo” – no caso, por ocupar essa função, embora licenciado, na Igreja Universal do Reino de Deus. Os dois estão empatados tecnicamente no primeiro lugar para a disputa das eleições muncipais no Rio, segundo as últimas pesquisas, como as realizadas pelo DataFolha e pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS). Na mais recente, do DataFolha, o senador Crivella aparece com 20% das intenções de voto contra 18% da ex-deputada Jandira.

Embora venham procurando expressar publicamente preocupação com problemas municipais, Crivella e Jandira ainda são lembrados principalmente por se posicionarem antagonicamente sobre questões ideológicas, como o aborto, o casamento entre homossexuais e a liberação das drogas – temas que pouco ou nada têm a ver com responsabilidades da alçada de um prefeito. Crivella atacou o também o candidato Fernando Gabeira (PV) dizendo que ele defende “homem com homem e maconha”. O candidato verde respondeu que ele devia estar preocupado é com a “relação homem/mosquito”, referindo-se ao surto de dengue no município. Provavelmente, são declarações como essas que jogam o mesmo Crivella ao mais alto índice de rejeição: 28% (DataFolha) e 16,7% (IBPS). Jandira, ao contrário, já se declarou a favor das liberdades individuais e, inclusive, propôs um anteprojeto para legalização total do aborto. Questionados por ISTOÉ sobre os temas espinhosos, ambos escaparam. Ele não respondeu. Ela deu entrevista, mas não quis se pronunciar: “Essa temática não é de abrangência do prefeito”, disse. E garantiu: “Meu projeto é de cidade. E a questão da saúde é um foco muito forte.”

O antagonismo entre os dois segue. Crivella é casado com a primeira e única mulher que namorou, Sylvia, e diz viver para servir e louvar a Deus. Jandira é membro do comitê central do Partido Comunista do Brasil desde 1981 e, como todos sabem, comunistas não acreditam na existência de um ser divino. A ex-deputada é separada e não compartilha com a tese do casamento único. “Marcelo Bezerra Crivella é um homem de uma mulher só”, orgulha-se o senador em seu site pessoal. “Vou implantar um exemplar projeto de planejamento familiar”, diz Crivella.

Para o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, do IBPS, as diferenças pessoais alimentam as campanhas, mas não definem uma eleição. “Tem gente que é contra o aborto e vota na Jandira e a favor da maconha e vota no Crivella”, afirma ele. O que conta, segundo Monteiro, é a “imagem de competência e preparo para o cargo”.

Não se pode afirmar, ainda, que as eleições serão marcadas pela ideologização. Até porque o eleitorado do Rio está se reposicionando, já que alguns importantes nomes saíram da disputa – como o do apresentador de tevê Wagner Montes. E há postulantes novos, por outro lado, ameaçando entrar em cena, como Miro Teixeira. Seja como for, “o bispo” e “a comunista” têm bases eleitorais bem segmentadas e não devem perder espaço facilmente. Mas num eventual segundo turno entre eles, de acordo com a apuração do IBPS, ela ganharia por 41,1% a 30,2%.

Ambos têm evitado se posicionar sobre temas fora da alçada municipal