30/08/2002 - 10:00
O próprio candidato à presidência do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, o metalúrgico José Maria de Almeida, 44 anos, considera o PSTU pequeno demais para comportar seus ideais. Ele aproveita a eleição, para pedir que o brasileiro vá às ruas contra o atual modelo econômico. “Para absorver essa força, precisaremos mais que um partido. Tem de haver uma união de toda a esquerda.” Na semana passada, ISTOÉ acompanhou a campanha de Zé Maria em Maceió.
ISTOÉ – Por que vocês falam tanto da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) no horário gratuito sem ao menos explicar o que quer dizer a sigla?
Zé Maria – O povo precisa saber disso. Saber que os juros pagos num acordo com o FMI são o motivo de não sobrar dinheiro para a educação. O assunto já está sendo tratado pelo grande empresário quando deveria começar de baixo.
ISTOÉ – “Contra burguês, vote 16” é a melhor forma de comunicação?
Zé Maria – Com pouco tempo na mídia, somos obrigados a falar de uma forma bem-humorada. É a maneira mais eficiente de mostrar a realidade.
ISTOÉ – Foi o sr. que inventou esse slogan?
Zé Maria – (Risos) Não. Ele existe desde a eleição passada, foi criação do partido.
ISTOÉ – O sr. já leu O Capital, de Karl Marx?
Zé Maria – O capital, por exemplo, eu não li. É grande, demanda uma capacidade mínima de concentração. Tenho defeitos e um deles é não estar acostumado a ler. Aprendi muitas coisas com o partido. Lá tem gente que estuda muito. Minha militância é de fábrica, onde eu trabalho desde os 13 anos. Tenho o segundo grau e um curso do Senai.
ISTOÉ – E como é o seu socialismo?
Zé Maria – No socialismo não vai haver gente que vive da exploração do trabalho alheio. Todo trabalhador vai ter sua casa. Temos de passar para o controle do Estado as grandes propriedades e garantir a liberdade e a democracia para a classe trabalhadora. Nossa concepção de socialismo não tem a ver com a China ou o Leste Europeu.
ISTOÉ – De que o sr. vive?
Zé Maria – Do salário de uma empresa. Estou liberado para exercer a atividade sindical. (É tesoureiro da Central Única dos Trabalhadores.)
ISTOÉ – Quanto vocês já gastaram até agora na campanha?
Zé Maria – Ai, mulher, o pessoal lá de São Paulo é que sabe. A arrecadação prevista foi de até R$ 200 mil. Tem sido muito sacrifício. Meu material de campanha ainda não chegou.
ISTOÉ – Como tem sido a abordagem das pessoas na rua?
Zé Maria – Tem muita gente que me pára, pergunta do partido e isso aumentou muito em relação à eleição passada. Às vezes, vêm umas moças me elogiar.
ISTOÉ – Elas perguntam se o sr. é solteiro?
Zé Maria – (Risos) Se elas vêm com segundas intenções, não percebo. Sou muito tímido. Outro dia um repórter me perguntou: cadê a primeira-dama do PSTU? Fiquei enrolado, nem namorada eu tenho.
ISTOÉ – Por quê?
Zé Maria – Não dá tempo para arrumar uma. Cada dia estou num lugar e isso não seria bom para ela. Mas eu só vou voltar a pensar nisso depois de outubro.