A briga política está quente em Alagoas. Qualquer passo em falso pode desequilibrar a balança que mostra empate técnico entre os candidatos ao governo do Estado Fernando Collor (PRTB) e Ronaldo Lessa (PSB), que tenta a reeleição. Eles têm, respectivamente, 41% e 40% das intenções de voto, segundo pesquisa do Instituto Datamétrica, realizada nos dias 16 e 17 de agosto. Acusado de nomear o irmão Otávio Lessa para o Tribunal de Contas do Estado (TCE) em abril, o governador está reagindo com cautela ao falar sobre o pedido que o PT dará entrada na Assembléia Legislativa nesta semana para anular o decreto de posse. “Todos os requisitos foram cumpridos. Otávio assumiu cargos do primeiro escalão do Estado e da Prefeitura de Maceió e nunca sua competência foi posta em dúvida. No mais, sobram futricas do calor eleitoral”, diz a nota oficial do governador. Em 19 de abril, o nome de Otávio foi aprovado pelos deputados alagoanos por 22 votos a dois para ocupar a vaga do conselheiro José Bernardes, que morrera semanas antes. O cargo no TCE é vitalício e ainda conta com regalias como nomeação de assessores e verba de gabinete. Durante a sessão, os deputados Paulo Fernando dos Santos, o Paulão, e Paulo Nunes, ambos do PT, manifestaram-se contra à decisão da casa, por suspeita de compra de apoio dos deputados. É de Paulo Nunes que parte o pedido de anulação. “O momento político é tão delicado que prefiro não fazer comentários. Posso acabar sendo usado”, disse o autor da denúncia a ISTOÉ.

O fato é que, de abril até hoje, as investigações de Nunes já ultrapassaram as suspeitas de um eventual nepotismo. Otávio está sendo acusado de ter três carteiras de identidade, uma emitida em 1974 e as outras duas, em 1991. O uso de mais de um documento de identidade é crime de falsidade ideológica. Outra polêmica envolve o irmão-problema de Ronaldo Lessa, que já ocupou a Secretaria-Geral do governo. Otávio pode ter apresentado um diploma de curso superior falso, em que seria graduado em administração de empresas pelas Faculdades Simonsen, do Rio de Janeiro. No entanto, a instituição desconhece a passagem do conselheiro do TCE por suas salas de aula. “Isso eu só vou discutir após a eleição, no fórum competente. Está na cara que é um golpe político para prejudicar meu irmão”, declara Otávio.

Sem saída – O PT está longe de tirar proveito do escândalo para conquistar eleitores. Em Alagoas, o desempenho do partido nas pesquisas de opinião é comparável ao do candidato Ricardo Barbosa, do nanico PSTU – menos de 1%. A candidatura do vereador Judson Cabral não decolou após a crise gerada no PT com a saída da senadora Heloísa Helena da disputa estadual. Por causa da coligação nacional de seu partido com o PL, ela teria de subir no mesmo palanque que os liberais, que sempre estiveram ao lado de Collor na região. Um deles é o deputado federal João Caldas, com longa história de apoio ao ex-presidente. “O PT está colhendo o que plantou”, responde Heloísa. “Quando eles acharam que eu não era importante, eu me recolhi na minha insignificância”, acrescenta a senadora.

O irônico é que nem o apoio do PL, pivô da confusão, ao candidato do PT está acontecendo. Na semana passada, o deputado estadual Paulo Fernando dos Santos reclamou da falta de atenção à candidatura petista em Alagoas. Crítica parecida recebeu também a própria senadora Heloísa Helena por se negar a aparecer no horário eleitoral pedindo votos para Judson Cabral. “A lógica formal explica esse meu comportamento: se eu aceitasse pedir votos com essa coligação, pediria para mim”, argumenta a senadora. Por causa da recusa, na quarta-feira 28 a coordenação eleitoral do PT no Estado proibiu que um aliado de Heloísa, o candidato ao Senado Eduardo Bomfim, usasse o tempo da senadora na campanha da televisão. Ela também pretendia destinar seu espaço ao padre Eraldo, que disputa uma vaga na Assembléia Legislativa. Na avaliação do coordenador da campanha de Judson, Ricardo Coelho, a senadora não deveria priorizar alguns candidatos e ignorar a briga estadual.