FUSÃO CROMÁTICA SOBRE FOTOS: ALAN MARQUE/FOLHA IMAGEM E ROBERTO CASTRO/AG. ISTOÉ

FERIDOS PELOS PAPÉIS
Álvaro Dias é acusado de vazar informação e a ministra Dilma é atingida em pleno vôo eleitora
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O maior retrato da crise de transparência na qual governo e oposição se envolveram a partir do levantamento de informações dos gastos das contas tipo B, substituídas depois pelos cartões corporativos, do atual e do antigo presidente da República pode ser resumido na reação da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS). Presidente da CPI dos Cartões Corporativos, ela chegou a pensar em encerrar a investigação. “A gente cansa depois de uma semana dessas”, disse a senadora. Em seguida, amenizou: “Mas não vou jogar a toalha, não.” Em vez da investigação que interessa, o que se tem visto nos últimos dias é uma discussão infrutífera em torno de quem produziu e vazou um dossiê, ou banco de dados, com gastos pessoais do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua mulher, Ruth.

Do ponto de vista do contribuinte, pouco importa se o que foi feito foi um dossiê, como diz a oposição, ou um banco de dados, como alega o governo. O que deveria estar sendo debatido no País é quais são e como são feitos os gastos do presidente da República, pouco importa se Lula ou Fernando Henrique Cardoso. Depois que voltou à tona no início do ano a farra dos cartões corporativos, inicialmente revelada por ISTOÉ Dinheiro em 2005, o assunto acabou tema de uma CPI mista instalada no Congresso. Antes mesmo que os parlamentares pudessem começar a apurar as primeiras evidências (somente na quinta-feira 3 chegaram à CPI 72 caixas de documentos enviadas pelo governo), os trabalhos foram atropelados por uma briga secundária.

A papelada que hoje circula pelo Congresso tem 13 páginas. Lista despesas de FHC e dona Ruth em 1998 descritas de maneira aleatória, sem ordem de data e sem números dos processos ou das notas fiscais. Reportagem publicada pelo jornal Folha de S.Paulo na sexta-feira 4 informa que a planilha, no formato em que se tornou pública, foi mesmo digitada em computadores da Casa Civil da Presidência. O que reforça a idéia de criação de um dossiê e agrava a situação da ministra Dilma Rousseff, a aposta eleitoral de Lula para a sua sucessão e principal vítima política das conseqüências da divulgação do dossiê.

A briga entre governo e oposição agora está na descoberta de quem vazou tais informações. Já está confirmado que o dossiê passou, ao chegar ao Congresso, pelo senador Álvaro Dias (PSDBPR), um dos mais ferrenhos integrantes da oposição. Ele admite que viu o dossiê antes de ele ter se tornado público. “Vi nas mãos de um funcionário do Senado, mas não fiquei com cópia”, afirma. Para os governistas, porém, Álvaro é a fonte do vazamento.

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No meio da confusão, governo e oposição lançam suas armas. Para complicar a investigação da CPI, os papéis entregues pelo governo chegaram ao Congresso de forma absolutamente desorganizada. Ao mesmo tempo, a oposição aproveitou um cochilo dos governistas e conseguiu aprovar a convocação de Dilma para a Comissão de Infra-Estrutura do Senado. Oficialmente, ela irá falar do PAC. Evidentemente, será bombardeada por perguntas sobre o dossiê. Para os cidadãos que pagam impostos, toda essa confusão de dossiês, banco de dados, etc. deixa apenas uma certeza: tudo parece contribuir para encobrir o que realmente interessa: como e quanto gastam os seus presidentes.


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