Dez dias depois do assassinato de Pim Fortuyn, o líder da ultradireita da Holanda, a coalizão de partidos xenófobos que leva seu nome, a Lista Pim Fortuyn (LPF), se transformou na segunda força política do país ao conquistar, nas eleições de quarta-feira 15, nada menos que 26 das 150 cadeiras do Parlamento. Parte do sucesso dos extremistas deve-se à comoção causada pelo crime, praticado por um ambientalista, num país conhecido por sua tradição liberal e tolerante. Afinal, o último assassinato por motivos políticos na Holanda ocorreu no longínquo século XVI. “É uma grande homenagem ao nosso líder”, comemorou Mat Herben, provável substituto de Fortuyn. A LPF, com apenas três meses de idade e escassez absoluta de bons quadros políticos, depara-se agora com o desafio de participar de um governo de coalizão com os vencedores da eleição, os conservadores do Apelo Cristão Democrático (ACD), que
conquistaram 43 cadeiras.

Fortuyn, ex-professor de sociologia, admitia, aliás, que encontrar grandes quadros em seu partido era tão raro como achar uma agulha num palheiro. “Não há um único ministeriável entre os meus”, teria confessado ele. “Estamos sem herdeiros”, disse modestamente o jornalista Herden, ex-porta-voz do Ministério da Defesa, depois da morte do chefão. Além disso, o saco de gatos de extrema direita que se reuniu na LPF carece de qualquer coisa parecida com um programa de governo. Os temas centrais da campanha de Fortuyn, como o combate ao aumento da imigração e à criminalidade, não estão especificados em algum tipo de proposta governamental. Por tudo isso, alguns analistas acreditam que, passada a febre Fortuyn, a LPF acabará perdendo seu poder de sedução. Mas, por enquanto, a coalizão obteve uma vitória política insofismável, principalmente em cidades como Roterdã, a segunda do país e um dos principais portos europeus, onde a LPF teve 29,6% dos votos.

Sem programa – Já o Apelo Cristão Democrático (ACD), que deverá liderar a nova coalizão de governo, não sentia o gosto do poder desde 1994. Seu líder, Jan Peter Balkenede, 46 anos, que assumiu o cargo em 2001, também é um personagem curioso. Praticamente desconhecido no cenário político da Holanda, ele assumiu em campanha sua semelhança física com Harry Potter, o famoso personagem das histórias infanto-juvenis. Ele também não apresentou exatamente uma plataforma de governo, apenas idéias vagas e banais. “Amor ao próximo, respeito e responsabilidade são as três idéias fundamentais que nortearão a política holandesa no futuro”, declarou Balkenede, logo após saber da vitória.

Outra curiosidade desta eleição foi a derrota humilhante do social-democrata Partido do Trabalho (PvdA), do atual primeiro-ministro Wim Kok, que perdeu 21 das 45 cadeiras, mesmo com progressos na economia do país. Afinal, em 1991 a Holanda era o 10º país da União Européia em termos de PIB e hoje já é o 5º, enquanto o desemprego, que era de 11% em 1983, caiu para 2,5% no ano passado. Mas a xenofobia e a falta de segurança, além da comoção provocada pela morte de Fortuyn, falaram mais alto que os índices econômicos do país.