Carlos Magno

Roberta: lágrimas derramadas durante as apresentações

Quem a conhece pessoalmente não imagina que a garota de personalidade tímida e corpo franzino de 43 quilos distribuídos em 1,56m possa no palco ganhar dimensões superlativas. Talento e sensibilidade, a bailarina carioca Roberta Márquez, 26 anos, já provou ter. Seus predicados motivaram o prestigiadíssimo Royal Ballet de Londres a convidá-la para ser uma das oito primeiras bailarinas da companhia. “É inédito na história do balé brasileiro uma bailarina sair direto do Theatro Municipal do Rio de Janeiro para ser uma estrela no Exterior”, afirma Roberta, que, no ano passado, se apresentou mais vezes no Royal Ballet como convidada do que no Municipal carioca, do qual acaba de pedir demissão. Em setembro, ela se muda para a capital inglesa. Irá acompanhada do marido, o também bailarino André Valadão.

A carreira de Roberta tem sido marcada pela paixão. Não raro, ela derrama lágrimas durante suas apresentações. Tal emoção não só a diferencia no mundo das sapatilhas como há tempos vem chamando a atenção de gente como a coreógrafa e empresária Dalal Achcar, ex-presidente do Municipal carioca. “Ela é capaz de passar ao público exatamente o que a obra quer transmitir”, opina Dalal. Uma das melhores oportunidades que Roberta teve para exibir seu talento aconteceu em 2001, quando foi convidada pela bailarina russa Natália Makarova para dançar a La bayadère interpretando Nikiya, bailarina de um templo indiano que perde seu amor para a princesa Ganzati. Ela assimilou com perfeição a sensualidade de Nikiya e, para viver o papel com o máximo de veracidade, imaginava o sofrimento de uma possível perda do marido. O resultado não poderia ser melhor. Roberta teve a carreira dividida entre antes e depois da La bayadère. “Na época as pessoas não acreditavam e diziam que eu tinha ficado enorme no palco”, diverte-se

Emoção e técnica impecável, é claro, foram passaporte para o sucesso, além do grande empenho. Sua mãe, a peruana Antonieta, lembra dos tempos em que buscava a filha no colégio, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, para levá-la ao centro da cidade. “Ela almoçava no carro, era muito sacrifício. Tinha uma hora e meia de aula e quatro horas diárias de ensaio. Depois, só pensava em voltar para casa e relaxar. A sorte é que nunca teve tendência para engordar. Ela é capaz de devorar um prato grande de picanha com arroz, feijão e batata frita e um doce de sobremesa, sem perder a linha”, conta a mãe. “Mas quando tenho uma apresentação fico à base de franguinho com salada, que eu detesto”, segreda a bailarina.