Byrne: influência de Caetano Veloso

Sempre aberto a novas experiências musicais, o cantor e guitarrista escocês David Byrne, 51 anos, novamente surpreende os fãs em Grown backwards, seu décimo trabalho solo, com a gravação de duas famosas árias de ópera. É certo que o ex-talking head não tem uma voz educada no canto lírico, nem prima por uma correta pronúncia do francês e do italiano, línguas em que foram compostas, respectivamente, Au fond du temple saint – da ópera Os pescadores de pérolas, de Georges Bizet – e Un di felice, eterea, de La Traviata, de Giuseppe Verdi.

Em Au fond du temple saint – considerado um dos grandes duetos do bel canto –, Byrne divide os vocais com o americano-canadense Rufus Wainright, que trocou uma promissora carreira de tenor pela música pop. Acompanhados da orquestra de câmara texana The Tosca Strings e de uma seção de sopros, a faixa dá o tom do disco, no qual Byrne abandona toda a parafernália eletrônica em favor das cordas, metais e outros instrumentos acústicos acrescidos apenas de baixo e percussão, tocados pelo brasileiro Mauro Refosco. Uma das influências de Byrne para a sonoridade do novo álbum veio de Caetano Veloso e seu álbum Livro, que casava orquestrações com suaves intervenções de percussão baiana. O que pode ser facilmente comprovado no jeito bossa de Tiny apocalypse, que traz uma discreta bateria sobre cortina de violinos. Nova-iorquino de coração, Byrne faz na canção um melancólico retrato do que é acordar todos os dias sob a ameaça do fim do mundo.