A Worldcom é um colosso. Surgida há 19 anos como uma pequena operadora de ligações telefônicas de longa distância, no Estado do Mississipi (EUA), a empresa aproveitou-se do processo de desregulamentação do setor das últimas duas décadas para se tornar o segundo maior conglomerado de telecomunicações dos Estados Unidos, atrás apenas da AT&T.
O homem por trás do fenômeno chama-se Bernie Ebbers, um ex-gerente de motéis que assumiu o comando da (então pequena) companhia no longínquo 1985 para se transformar em um ícone entre os executivos, tal sua agressividade na aquisição de concorrentes. No fim de abril, Ebbers recebeu uma importantíssima chamada de longa distância. Do outro lado da linha, em Washington, estavam os membros do conselho de administração da companhia. A ordem era arrumar as gavetas e se mandar para sempre da suntuosa sede da Worldcom, na pequena cidade de Clinton, a mesma onde a história começou.

Endividada ao extremo, a Worldcom já tinha virado mico na mão dos investidores e caminhava a passos largos para a bancarrota. As ações viraram pó – ou “junk”, na linguagem dos analistas financeiros, cuja tradução literal é “lixo”. A dívida contraída para sustentar a política de aquisições (foram quase 80 ao longo dos anos) se aproximava dos US$ 30 bilhões. A fusão com a MCI, então a maior da história, realizada em 1998, teve de ser desfeita – as duas empresas foram separadas novamente há um ano. Na semana passada, o grupo conseguiu uma sobrevida com os bancos. Uma linha de crédito especial foi liberada para o acerto de uma parcela da dívida de US$ 2,65 bilhões, prestes a vencer.

Seria mais um caso de fracasso retumbante no nervoso mundo dos negócios americanos não fosse a empresa dona, no Brasil, da ex-monopolista da longa distância Embratel. Quando a MCI (ainda independente da Worldcom) assinou o cheque de R$ 2,65 bilhões para ficar com a companhia brasileira, em 1998, Ebbers vivia o auge. Sua empresa, avaliada então em US$ 190 bilhões, estava investindo pesado em negócios complementares ao serviço de interurbano, como transmissão de dados. A fusão com a MCI vinha sendo minuciosamente planejada. Os negócios na internet eram só alegria. Tanto que o executivo tornou-se membro de destaque da ciber elite, um grupo de líderes do mundo digital escolhido pela revista Time.

Hoje, o desempregado Ebbers (com direito a uma aposentadoria anual de US$ 1,5 milhão) está sendo obrigado a provar que não fraudou os balanços da companhia para vitaminar o lucro e a justificar por que fez retiradas de mais de US$ 350 milhões do patrimônio da empresa em benefício próprio.

Enquanto isso, no Brasil, a Embratel vive seu pior momento desde que foi privatizada. Com um prejuízo de R$ 554 milhões no ano passado, somado às perdas de R$ 36,4 milhões nos primeiros três meses deste ano e com o fantasma da inadimplência se materializando cada vez de forma mais horrenda, a companhia está oficialmente à venda desde o final de abril. No mundo todo, a Worldcom está tentando se desfazer de ativos para abater dívidas.

Concorrência – O problema é encontrar comprador. Além dos péssimos resultados recentes, a Embratel está enfrentando, agora, a concorrência da espanhola Telefonica no seu próprio quintal – o das ligações internacionais a partir de São Paulo e, talvez em breve, interurbanas no País todo. Como a Telefonica controla 80% do tráfego de longa distância em São Paulo, sua área de concessão, e o Estado responde por 40% do volume de chamadas nacionais e internacionais, não é difícil supor que a empresa leva uma grande vantagem para convencer seus assinantes a utilizarem o 15 para fazer as ligações de longa distância.

A entrada de concorrência tão pesada pode ser uma pá de cal para os negócios da Embratel (até hoje, a empresa só dividia o mercado com a pouco expressiva Intelig). Além da nova competidora no horizonte, a Embratel convive com os custos pesados de aluguel das redes das operadoras locais. Cerca de 70% do custo da chamada interurbana é distribuído entre as teles regionais – entre elas, a própria Telefonica.
“Se continuar assim, vamos ter de abandonar o mercado. Não temos como concorrer”, ameaça a vice-presidente da companhia,
Purificación Carpinteyro.

Analistas calculam que a entrada não só da Telefonica, mas também das outras operadoras locais nas ligações interregionais e internacionais, representará uma perda de 15% a 25% nas receitas da Embratel. “Se houver guerra de preços, as perdas serão ainda maiores”, diz Raphael Duailibi, analista do Yankee Group.

A Embratel já sentiu o baque e abriu uma frente de guerra jurídica contra os planos da Telefonica. Alegando que o modelo atual de repasse de tarifas entre as teles beneficiaria os espanhóis, a empresa conquistou uma liminar que impede, ao menos por enquanto, que a Telefonica opere no mercado de longa distância em outros lugares que não São Paulo. Os espanhóis reagiram, dizendo que as regras do setor eram claras já na época da privatização e a Embratel tenta apenas tumultuar o mercado. O presidente da Telefonica de São Paulo, Manoel Amorim, chegou a ameaçar reduzir investimentos no Brasil se a pendenga prosseguir por muito tempo. Essa briga vai longe.