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Começou a contagem regressiva para a próxima e mais revolucionária atração na tela de seu televisor – a programação via sinal digital em alta definição. Ela estréia no ar oficialmente no dia 2 de dezembro, é a mais nova e radical evolução tecnológica no campo da imagem, do som e da interatividade, que mudará completamente a nossa relação com a televisão – aparelho que está presente em cerca de 98% dos lares do País e diante do qual cada brasileiro passa, em média, nove horas diárias. Clique-se o controle remoto e abra-se a tela: 1.920 elementos de imagem (pixels) serão distribuídos em 1.080 linhas, com definição seis vezes maior do que os 720 pixels organizados nas 480 linhas do nosso atual padrão chamado analógico. Essa será a imagem que veremos nesse novo sistema denominado alta definição (High Definition, que corresponde à sigla HD). Quanto ao som, ele será enviado em multicanais possibilitando um áudio extremamente cristalino e livre de ruídos (surround).

Mais ainda: o telespectador também precisará se valer somente do controle remoto para interagir com o sistema e realizar, através do televisor, operações bancárias, enviar e-mails, consultar médicos, fazer compras e obter informações sobre o clima, além de uma infinidade de outros serviços. Um detalhe imperceptível: não nessa sofisticada interatividade, mas, na gravação de programas, as principais emissoras do Pais já vêm promovendo ensaios gerais – gravam digitalmente (algumas em alta definição) e comprimem o material produzido para a tecnologia analógica (sistema Standard Definition). O motivo é claro: mesmo gravando em forma digital, ninguém poderia ainda transmitir essas imagens porque o sinal digital só estará no ar daqui a três meses. Toda essa revolução começará somente pela cidade de São Paulo e se estenderá paulatinamente a todo o País.

O futuro da televisão está, portanto, batendo à porta, e as emissoras e a indústria de televisores e seus complementos se adequam aos novos tempos. A Rede Globo, por exemplo, já pôs um ponto final na substituição de seus antigos equipamentos – hoje não se vêem mais fitas em suas ilhas de edição num processo de transformação que se iniciou em 1995. A partir do início de dezembro, praticamente tudo aquilo que ela mandar para o ar será em sinal digital de alta definição e a grande vedete, que estréia esse formato, já tem nome e horário nobre reservado: novela das oito da noite, chamada Duas caras. “Estamos adaptando a nossa grade ao HD e seguimos um cronograma para instalar transmissores digitais nas principais cidades brasileiras”, diz Carlos Brito, assessor de Planejamento e Projeto da Central Globo de Engenharia. É nas gravações de novelas, aliás, que a nova tecnologia digital pesa para valer, e isso não vale apenas para a Globo. Também a Rede Record e a Rede Bandeirantes estão colocando esse tipo de programação como seus carros-chefes do início dessa nova era tecnológica.

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CULTURA Programas infantis e cuidados especiais com as novas técnicas de maquiagem

Tudo muda: um pedaço de durex colado num cenário será visto pelo telespectador, portanto, ele não poderá estar lá. Quanto ao quesito maquiagem, os velhos métodos viraram pó, até porque há atrizes que têm rosto bonito e nuca feia – e agora será preciso disfarçá-la porque o telespectador poderá girar a moça o quanto e como quiser em ângulos diferentes. Na Globo, uma equipe de 120 maquiadores passou por reciclagem para trabalhar na digitalizada Duas caras porque um dos personagens será submetido à cirurgia plástica para alterar a fisionomia ao longo da trama. É a própria Globo que admite: será uma prova de fogo para a equipe, pois o rosto inicial do personagem terá de ser criado com maquiagem de alta sofisticação (como equipamento air-brush, que corrige as mínimas imperfeições da pele) e o segundo rosto, também. Na Bandeirantes investiram-se cerca de R$ 40 milhões no sistema digital e a novela que comandará toda a mudança no horário nobre chama-se Dance, dance, dance. E também a Rede Record vai de novela, que começará a ser gravada em outubro.

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BAND Gravação digital da novela Dance, dance, dance

As emissoras gravarem e transmitirem digitalmente, ou gravarem e transmitirem também de forma digital, mas com alta definição, são coisas diferentes – tudo que é em alta definição é digital, mas nem tudo que é digital será necessariamente em alta resolução. A TV Cultura, por exemplo, está produzindo os programas infantis Vila Sésamo e Cocoricó dentro da forma digital, mas não em alta. Globo, Record e Bandeirantes gravam novelas em alta definição. O novo sinal que vai ao ar em São Paulo permite, em ambos os casos, que o telespectador receba imagens incrivelmente melhores. Em capítulos: por enquanto tudo o que vemos na tela de nossa televisão, seja ela de tubo, de cristal líquido ou de plasma, seja esse programa produzido de forma digital ou não, entra em nossas casas pelo sistema analógico: resolução de imagem de 400 x 400 pixels. Quanto ao sistema digital (padrão japonês Integrated Services Digital Broadcasting Terrestrial – ISDB), ele vai numa escala crescente de resolução até alcançar o teto de 1.080 x 1.920 pixels (pixel é a microparte de uma imagem e, quanto maior a sua quantidade, maior a perfeição do que se vê. Ou seja: quanto mais pixels juntos, mais detalhes a imagem terá). Qual é então a principal diferença entre digital simples e alta definição? Voltemos às novelas. Em sua fase de gravação no sistema simples, uma hora de novela gera um arquivo de 10 gigabits (bit é a unidade mínima de um arquivo digital). Em alta definição, essa mesma novela já atingiria o mesmo tamanho de arquivo em apenas meia hora de gravação devido à riqueza de detalhes das imagens. Isso significa para as emissoras um investimento de aproximadamente US$ 3,5 milhões.

Assim que o novo sinal começar a operar, pelo menos por enquanto os televisores que temos em casa não conseguirão de imediato, por si sós, receber a nova imagem – tanto que o governo federal deu sobrevida ao atual sistema analógico até 2016. Isso não enfraquece em nada a importância e maravilha desse salto tecnológico do Brasil, até porque a própria indústria desse setor forçará, por demanda de mercado e paixão dos brasileiros por assistir à televisão, que esse período de tempo seja menor. “Essa tecnologia, em geral, se espalhará rapidamente”, diz o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Ela vai trilhar o mesmo caminho de outras novidades. No início de dezembro, no entanto, quem quiser receber imagens digitais terá de comprar um decodificador chamado settop- box (R$ 300) e acoplá- lo à tevê – ele ainda não vem como componente de nenhum televisor e será necessário um set-top-box para cada aparelho de tevê que se tenha em casa. Mesmo quem possui televisores de tubo poderá captar imagens digitais desde que também compre esse decodificador – embora a imagem não tenha a mesma qualidade. E possua a televisão que possuir (LCD, plasma ou tubo), quem não quiser comprá-lo continuará assistindo normalmente à programação pelo sistema atual.

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GLOBO A novela Duas caras exibirá alta definição no horário nobre

Chave de recepção digital, o set-topbox é também a engenhoca que responderá pelo que há de mais revolucionário na nova onda digital – a interatividade através do controle remoto e do televisor. Em breve, dentro desse decodificador haverá um sistema operacional chamado middleware (batizado Ginga) responsável pelo “diálogo” com os aplicativos da TV digital. Foi desenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba e pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Com ele será possível obter informações complementares nos telejornais, ver jogos e eventos esportivos através de diversas câmeras e por ângulos diferentes, captar áudios de fontes diferenciadas, acessar operações bancárias, marcar consultas no SUS, comprar produtos anunciados nos comerciais, participar de enquetes e, no caso de programas educativos, tirar dúvidas com professores e realizar exames. Tudo isso é só um primeiro, mas grande passo rumo ao futuro da TV. E coloca o Brasil na moderna tela da contemporaneidade e amplas potencialidades do mundo digital.

Colaboraram: Aziz Filho (Rio de Janeiro), Carina Rabelo (São Paulo), Rodrigo Rangel (Brasília)