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TRISTEZA piora qualidade de vida de doentes

Uma importante descoberta pode redirecionar a estratégia usada até agora no diagnóstico e tratamento do mal de Parkinson. Dados preliminares de um grande estudo divulgado na última semana revelaram que a depressão pode ser um dos primeiros sintomas da doença. Ou seja, a ocorrência dessa enfermidade psiquiátrica pode ser o sinal mais precoce de que o Parkinson está começando a se desenvolver. Ela poderia até mesmo anteceder a manifestação de sintomas mais clássicos e conhecidos do Parkinson, como tremores e rigidez muscular. A informação foi o principal resultado de um trabalho europeu denominado Perfil de sintomas depressivos na doença de Parkinson, apresentados no 11º Congresso da Federação Européia de Sociedades Neurológicas, ocorrido em Bruxelas, na Bélgica.

A descoberta muda completamente a concepção que se tinha até agora sobre a relação entre a depressão e o Parkinson. Acreditava-se que a primeira enfermidade fosse uma conseqüência da segunda, e não o contrário. Mas na verdade, segundo os cientistas, quando o indivíduo começa a apresentar sinais de depressão sua química cerebral já foi afetada. E o que está sendo atingido, nesse caso, é justamente a região responsável pela produção de substâncias como a serotonina e a noradrenalina, cujo desequilíbrio pode levar à depressão, e também da dopamina. Em concentrações inadequadas, essa substância leva ao mal de Parkinson. É por isso que uma desordem nessa área pode desencadear tanto a depressão quanto o Parkinson. Ou os dois. Nesses casos, porém, a manifestação da depressão vem carregada de características muito peculiares. “Ela surge combinada com outros agravantes como a desordem no sono, constipação intestinal, impotência e perda de olfato, entre outros problemas”, afirma o neurologista Paolo Barone, coordenador do estudo e professor da Universidade de Napoli-Frederico, na Itália.

A pesquisa foi feita em 24 centros distribuídos em oito países da Europa, e envolveu 1.016 pacientes com mal de Parkinson. Seu resultado obriga os médicos a ficarem muito mais atentos à evolução do estado de saúde dos portadores de depressão. Afinal, eles podem também estar com o Parkinson em desenvolvimento e nem desconfiar disso. “Esse acompanhamento ajuda no diagnóstico precoce da doença”, afirma o médico Matthias Lemke, professor de psiquiatria da Universidade de Kiel, na Alemanha. De fato, esse achado é uma contribuição fundamental para que muitos pacientes sejam tratados o mais cedo possível. Isso é importante porque, se a doença é identificada precocemente, as chances de reduzir seus estragos são muito maiores. Infelizmente, hoje o diagnóstico do Parkinson em geral é feito quando o indivíduo já está apresentando as dificuldades motoras características da enfermidade. Nesse estágio, o que resta à medicina é correr atrás do prejuízo, e em larga desvantagem. Na avaliação do neurologista Egberto Reis Barbosa, médico assistente da Universidade de São Paulo, a depressão, além de sintoma importante, também é um dos distúrbios que mais interferem na qualidade de vida dos pacientes. Mais até do que os problemas motores. “Portanto, identificar a ocorrência de depressão nos portadores de Parkinson, e tratá-la o quanto antes, melhora a qualidade de vida desses doentes”, afirma.

OUTRAS ESPERANÇAS
Outros avanços estão sendo obtidos contra o Parkinson. Cientistas finlandeses descobriram uma proteína que poderá ajudar a retardar os sintomas da doença porque impede a redução da dopamina. Na Faculdade de Medicina de Harvard (EUA), os médicos injetaram células-tronco no cérebro de cobaias portadoras do mal. “Um mês depois elas tiveram grande melhora”, relata Richard Sidman, líder do estudo. Outra notícia é a comprovação da eficácia de drogas novas como a rasagilina e a rotibotina. “São eficientes e com poucos efeitos colaterais”, explica o neurologista Henrique Ballalai, da Universidade de São Paulo. E para tratar a depressão associada ao Parkinson, o remédio pramipexole se mostrou uma boa opção, segundo o estudo europeu.

 

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OPÇÕES Novas drogas e células-tronco para o tratamento