Para o rei dos efeitos especiais, o cineasta americano George Lucas, a tecnologia digital pode tornar realidade as mais mirabolantes fantasias de sua imaginação. Ele compara o impacto do novo sistema ao surgimento do som e das cores. Seu filme Guerra nas estrelas: episódio 2 – ataque dos clones é o primeiro da série a chegar às telas em formato 100% digital. O resultado da saga do herói Luke Skywalker, que estreou nos Estados Unidos na quinta-feira 16 e estréia em 5 de julho no Brasil, são efeitos especiais mais sofisticados e imagens com maior resolução e nitidez. No cinema digital, as cenas são armazenadas em computadores em vez da película e transmitidas para a tela através de projetores digitais. Só que sua qualidade será invisível à maioria dos espectadores. O motivo é que ainda são poucas as salas de exibição preparadas para a nova tecnologia. Em 1999, no lançamento de Episódio 1: a ameaça fantasma, só quatro cinemas nos EUA exibiram o filme em formato digital. Com o muito esperado Ataque dos clones, Lucas esperava que fosse diferente e pelo menos 500 salas americanas, em vez de cerca de 70, exibissem ao público as imagens como ele as concebeu, sem degradações.

Os executivos de Hollywood alegam que a tecnologia não está pronta para o uso em massa e resta definir questões importantes como a quem caberia a responsabilidade por financiar a instalação dos sistemas de projeção, que custam até US$ 150 mil. Outro foco de debate é a pirataria, por sinal o calcanhar-de-aquiles da nova tecnologia. No mês passado, os sete maiores estúdios cinematográficos se uniram para estudar formas de combater a cópia ilegal. De nada adiantou. Antes mesmo da estréia de Ataque dos clones nos cinemas, uma versão completa já circulava, de graça, na internet.

Mais do que apenas imagens nítidas, a tecnologia digital deve revolucionar a exibição da sétima arte. “As imagens são guardadas em computador e poderão ser transmitidas via satélite, dispensando os caros rolos de filme”, diz Patrick Siaretta, dono da produtora Teleimage. No Brasil, a tecnologia dá seus primeiros passos. Em 2001, um quinto da produção nacional foi rodada em câmera digital ou usou inserções computadorizadas. Para acompanhar a tendência mundial, a produtora Teleimage inaugurou duas salas com projetores high tech, uma em São Paulo, outra no Rio. Entre os títulos nacionais exibidos pela nova tecnologia estão o infantil Xuxa e os duendes, filmado com câmera digital, e o aguardado Abril despedaçado, de Walter Salles, que foi rodado em película e depois convertido para exibição digital. A nova técnica traz benefícios tanto para o filme rodado em câmera digital quanto para aquele filmado em película e depois gravado em computador. “Não há contato físico nem o desgaste mecânico da película ao ser exibida sucessivas vezes. A cópia feita agora estará idêntica daqui a 30 anos”, explica o engenheiro eletrônico Alex Pimentel.

A tecnologia traz outras vantagens, como a criação de um elenco só de atores virtuais. Algo que faria delirar o cineasta Alfred Hitchcock, que certa vez comparou atores a gado. Em Ataque dos clones, George Lucas dispensou a contratação de 2.500 figurantes para replicar o exército de soldados do Império. O mestre Yoda, que trocou o ar monástico pelas lutas marciais, não é mais marionete, como nos outros episódios. Apesar de criado e animado por computador, ele não ganhou fisionomia artificial porque hoje se pode criar nas pranchetas digitais mais de cinco
mil expressões faciais com base no movimento de 44 músculos
do rosto humano.

O cineasta Steven Spielberg, que sempre abusou dos efeitos especiais, diz que será o último a adotar câmeras digitais. Numa entrevista à revista americana Wired, o diretor de E.T. e Parque dos dinossauros condena o que a maioria dos cineastas considera vantagem: a ausência da granulação que forma a imagem no escurinho do cinema. “O filme tem uma estrutura molecular chamada grão, e mesmo a cena de um vaso de flores tem vida por causa desses grãos, dessas moléculas. Quem já sentou nas primeiras cinco fileiras do cinema sabe do que estou falando. É como se a tela estivesse viva”, explica. O cineasta está longe de ter aversão à tecnologia. Spielberg sonha com o dia em que o filme se passará dentro da mente. “A história será contada enquanto estivermos de olhos fechados, mas poderemos ver, sentir o cheiro e interagir”, imagina o mestre das ilusões.

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